Trabalho noturno aumenta risco de asma em mulheres, revela estudo britânico

Um estudo recente da Universidade de Manchester, no Reino Unido, revelou uma importante associação entre o trabalho noturno e o risco aumentado de asma em mulheres. Fique aqui a saber mais!

Asma nas mulheres
Uma vez que um número crescente de mulheres está a trabalhar por turnos, é importante determinar se o risco de asma associado ao trabalho por turnos é maior nas mesmas.

Um estudo conduzido pela Universidade de Manchester, no Reino Unido, publicado na ERJ Open Research, revelou que as mulheres que trabalham em turnos noturnos têm maior probabilidade de desenvolver asma moderada ou grave em comparação com aquelas que trabalham apenas durante o dia.

A investigação envolveu mais de 270 mil pessoas e aponta que esta associação entre trabalho noturno e asma não foi observada entre os homens.

Diagnóstico de asma nas mulheres

A investigação utilizou dados do UK Biobank, um grande banco de dados populacional britânico, que incluiu informações de 274.541 trabalhadores.

Desses, 5,3% trabalhadores apresentavam diagnóstico de asma, e 1,9% tinham asma moderada ou grave, caracterizada pelo uso de inaladores preventivos e pelo menos outro tipo de tratamento, como esteroides orais.

Os participantes foram classificados segundo os horários de trabalho: exclusivamente diurno, exclusivamente noturno ou uma combinação dos dois.

A análise demonstrou que, de forma geral, as mulheres que trabalham por turnos apresentam risco mais elevado de desenvolver asma. O grupo com maior risco foi o das mulheres que trabalham exclusivamente em turnos noturnos: essas apresentaram cerca de 50% mais de probabilidade de desenvolver asma moderada ou grave em comparação com as mulheres que trabalham durante o dia.

Para os homens, a incidência de asma não mostrou variações significativas entre os diferentes tipos de turnos.

"A asma afeta desproporcionalmente as mulheres. Em geral, as mulheres têm asma mais grave e uma taxa de hospitalização e de morte por asma mais elevada do que os homens."
Segundo o Dr. Maidstone.

Ele explica que o trabalho por turnos, especialmente os noturnos, pode causar desregulação do ritmo circadiano, o que afeta também os níveis hormonais. A testosterona, por exemplo, já foi apontada como tendo efeito protetor contra a asma, o que poderia explicar por que os homens não são tão afetados nesse contexto.

A menor quantidade de testosterona nas mulheres, combinada com a interrupção do ritmo biológico natural, pode contribuir para o aumento do risco.

Como pode o ciclo biológico das mulheres acelerar o aparecimento da doença

Outro dado relevante do estudo diz respeito às mulheres pós-menopáusicas: aquelas que trabalhavam em turnos noturnos e não faziam uso de terapia de reposição hormonal (TRH) apresentaram quase o dobro do risco de desenvolver asma moderada ou grave, em comparação com mulheres da mesma faixa etária que trabalhavam durante o dia.

Pulmões
A asma nas mulheres pode apresentar sintomas mais graves e ser mais prevalente em comparação com os homens.

Isso levou a que os cientistas chegassem a levantar a hipótese de que a TRH possa ter um efeito protetor para esse grupo específico, embora essa relação ainda precise ser comprovada em estudos mais aprofundados.

A professora Florence Schleich, da Universidade de Liège e membro do grupo de doenças respiratórias da Sociedade Respiratória Europeia, que não participou no estudo, frisou que esta investigação levanta questões importantes.

Segundo ela, embora se saiba que as mulheres têm maior propensão à asma e às suas formas mais graves, ainda se compreende pouco sobre os mecanismos por detrás disso.

A descoberta de que o trabalho noturno pode ser um fator de risco para a asma exclusivamente entre mulheres é um alerta importante, especialmente considerando que muitas pessoas não têm liberdade para escolher os horários de trabalho.

Esta investigação sugere a necessidade de investigações adicionais para compreender o papel das hormonas sexuais e das condições de trabalho na saúde respiratória das mulheres.

Além disso, será fundamental explorar formas de minimizar o risco de asma em mulheres que trabalham por turnos, já que a mudança de horário nem sempre é viável.

Como conclusão, este estudo traz à tona uma importante desigualdade de género na saúde ocupacional, indicando que o trabalho noturno pode representar um risco significativo à saúde respiratória das mulheres, especialmente na fase pós-menopausa.

Referência da notícia

Maidstone RJ, Ray DW, Liu J, et al. "Increased risk of asthma in female night shift workers" ERJ Open Res 2025.