Satélites da NASA prestes a aposentar deixam várias lacunas na observação da Terra

Cientistas temem a perda de dados cruciais para a monitorização da camada de ozono e alterações climáticas com a desativação dos satélites Terra, Aqua e Aura. A comunidade científica procura soluções alternativas para minimizar o impacte da interrupção das informações.

NASA satélites
Três satélites da NASA estão prestes a aposentar-se. São eles o Terra, Aqua e Aura.

Três satélites da NASA, cada um com o peso de aproximadamente um elefante, estão prestes a aposentar-se. Já em processo de desativação gradual, observam o planeta há mais de duas décadas, superando em muito a expectativa inicial.

Além de auxiliarem na previsão do tempo, são importantes quer no combate aos incêndios florestais, quer, por exemplo, na monitorização de derrame de óleo. Mas a idade não perdoa, e em breve enviarão as suas últimas transmissões, iniciando a queda final lenta em direção à superfície terrestre.

Esse é o momento que os cientistas temem. Quando os três satélites – Terra, Aqua e Aura – forem desligados, grande parte dos dados que se encontram a coletar perder-se-ão, e os satélites mais novos não conseguirão suprir todas as necessidades.

Podem perder-se dados fundamentais ao estudo da camada de ozono e das alterações climáticas

Os investigadores terão a partir desse momento que confiar em fontes alternativas que podem não atender exatamente às exigências ou procurar soluções alternativas para permitir a continuidade dos registos.

Para alguns dos dados registados por esses satélites, a situação é ainda pior: nenhum outro instrumento continuará a captar estas informações. Em poucos anos, as características detalhadas que eles revelam sobre o nosso mundo serão menos claras.

“Perder estes dados irreparáveis é simplesmente trágico”, afirma Susan Solomon, cientista da área de Química do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. “Justamente quando o planeta mais precisa que nos concentremos em entender como somos afetados por ele e como o estamos a afetar, parece que podemos vir a estar adormecidos ao volante.”

A principal área que ficará sem vigilância é a estratosfera, lar importantíssimo da camada de ozono. Através do ar frio e rarefeito da estratosfera, as moléculas de ozono estão constantemente a formar-se e destruir-se, transportadas e varridas pela interação com outros gases. Alguns destes gases têm origem natural; outros estão lá por causa de nós – seres humanos.

O satélite Aura foi lançado do Kennedy Space Center, na Flórida, em 15 de julho de 2004 e agora corre o risco de ser desativado.

Um instrumento da Aura, o MLS (Microwave Limb Sounder), dá-nos a melhor visão desta intensa atividade química, explica Ross J. Salawitch, cientista da Universidade de Maryland. Uma vez que o satélite Aura desapareça, a visão possível sobre o planeta diminuirá consideravelmente.

Impacte na investigação: camada de ozono estagna e monitorização climática em perigo

Recentemente, os dados do MLS têm vindo a demonstrar a sua mais-valia de modo inesperado, segundo Salawitch. O instrumento mostrou o quanto os incêndios florestais na Austrália no final de 2019 e início de 2020, e a erupção vulcânica perto de Tonga em 2022, tiveram consequências sobre a camada do ozono.

Se não estivesse prestes a ser desativado, o MLS também poderia ajudar a resolver algumas problemáticas que ainda persistem, diz Salawitch.

“A espessura da camada de ozono sobre as regiões populosas do hemisfério norte praticamente não mudou na última década”, afirma. “Deveria, aliás, estar a recuperar-se. E não está.”

Jack Kaye, diretor associado de investigação da Divisão de Ciência da Terra da NASA, reconhece as preocupações dos investigadores com o fim do MLS. No entanto, argumenta que outras fontes, incluindo instrumentos em satélites mais novos, na Estação Espacial Internacional e aqui na Terra, facultarão “uma janela bastante boa para providenciar a informação sobre o que se passa na atmosfera”.

Para os cientistas que estudam as alterações climáticas, a diferença entre dados iguais e semelhantes pode ser enorme. De facto, somente por meio da monitorização contínua, de maneira inalterada, por um longo período, se pode ter a certeza do que está a acontecer.

Mesmo uma pequena interrupção nos registos pode criar problemas. Por exemplo, se uma plataforma de gelo colapsa na Gronelândia, a menos que se meça o aumento do nível do mar antes, durante e depois, nunca haverá certeza se a mudança repentina foi causada pelo colapso.