Sabia que existem peixes limpadores nos ecossistemas do Atlântico? A inteligência artificial ajuda a responder

Jovem cientista português, da Universidade do Havai, venceu o prémio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento com um projeto sobre como os peixes limpadores influenciam a resiliência, a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas marinhos. Saiba mais aqui!

Estudo no Atlântico
Investigador do MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente venceu prémio de 300 mil euros atribuído pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.

José Ricardo Paula foi o cientista vencedor do FLAD Science Award Atlantic 2023. Investigador do MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente e, em parceria com a Universidade do Havai, vai aprofundar ao longo de três anos, o estudo sobre o papel dos mutualismos de limpeza na conservação da biodiversidade do Oceano Atlântico.

No fundo, este estudo vai-se focar nas interações entre peixes no recife, onde há um peixe que se chama peixe-limpador que procura parasitas na boca de outros peixes e as limpa.

Projeto visa estudar as interações entre peixes no recife, onde há um peixe que se chama peixe-limpador que procura parasitas na boca de outros peixes e as limpa.

Ou seja, de acordo com José Ricardo Paula numa entrevista ao jornal Público, estas espécies são "o dentista dos peixes" e o que a ciência quer compreender é se a sua existência permite preservar a biodiversidade nos locais onde habita.

AtlanticDiversa

AtlanticDiversa é o nome atribuído ao projeto que José Ricardo Paula e Elizabeth Madin, da Universidade do Havai, vão desenvolver com o prémio atribuído pela Fundação Luso-Americana Para o Desenvolvimento.

Os investigadores irão utilizar câmaras de filmar subaquáticas ligadas à internet e acopladas a computadores preparados para inteligência artificial para monitorizar os ecossistemas marinhos de alguns locais do Atlântico, em particular os peixes-limpadores, que mantêm livre de parasitas o corpo de muitos outros peixes.

Os protótipos destas câmaras serão colocados no Algarve e Açores em Portugal, onde serão seguidas as espécies bodião de boca pequena e peixe-rainha; Cabo Verde e Flórida nos Estados Unidos e Curaçau, serão o bodião de cabeça azul e os góbios do género Elacatinus.

Para estes cinco locais de estudo será feito o acompanhamento da evolução do ecossistema marinho na ausência (manipulada) de peixes-limpadores.

Bodião-limpador
O bodião-limpador pode ser encontrado em todos os habitats de recife de coral. Tal como o nome indica, este peixe limpa o corpo de outros peixes removendo-lhes os parasitas ou pele morta, de que se alimenta. Fonte: Oceanário de Lisboa

Após os resultados sobre o impacto dos peixes-limpadores na biodiversidade marinha atlântica, a equipa propõe-se avaliar a resiliência destas espécies às alterações climáticas, nomeadamente o aumento da temperatura, acidificação e perda de oxigénio no mar.

Se estes animais forem capazes de proteger e estimular a biodiversidade, será ainda preciso perceber a sua resiliência aos fatores de stress que estamos a inserir nos oceanos, nomeadamente por via das alterações climáticas.

Esta componente tecnológica do projeto será avaliada no laboratório em Cascais, nas salas de modulação comportamental que, através de computadores aquáticos, permitem prever se estas espécies estão ou não preparadas para lidar com estes problemas.

Mas qual a importância a nível ambiental desta investigação?

Os resultados deste estudo serão importantes para criar ou reforçar programas de conservação, mas também para que Portugal consiga cumprir o objetivo que se comprometeu a atingir até 2030: garantir que 30% do seu território marítimo integre áreas protegidas.

José Ricardo Paula espera contribuir, com o seu trabalho, para a conservação marinha pois Portugal tem de fazer mais para a proteção da sua costa.

Referência do artigo:
Filipa Almeida Mendes. A inteligência artificial vai estudar o papel dos peixes limpadores no Atlântico (2023).