Revelado o segredo que envolve a criatividade no cérebro dos seres humanos

O fluxo criativo refere-se a um estado de espírito imersivo que parece promover o prazer, a inspiração e a determinação. Quais são as chaves para alcançar esse estado? Um novo estudo explica.

criatividade, humanos, cérebro
O estudo aponta dois fatores-chave nos quais se baseia o estado de fluxo criativo.

O que define uma pessoa como “criativa” e de que forma ela consegue atingir esse estado desejado? As pessoas esforçam-se para atingir este famoso estado de espírito numa ampla gama de tarefas, sendo que muitas esperam alcançar pelo menos alguns momentos de diversão e produtividade sem esforço.

Também conhecido como “fluxo”, este estado mental é um fenómeno psicológico real, embora ainda pouco conhecido. Um novo estudo realizado por investigadores da Universidade Drexel esclarece o que acontece dentro do cérebro humano durante o estado de “fluxo” e oferece pistas sobre como alcançá-lo.

De acordo com o citado pelo Science Alert, o estudo aponta dois fatores-chave nos quais se baseia o estado do fluxo criativo:

  • Ampla experiência numa atividade
  • A renúncia ao controlo consciente

Com o tempo, a experiência profunda alimenta uma rede de regiões cerebrais especialistas em gerar o tipo de ideias procuradas, explicam os investigadores, enquanto a renúncia ao controlo consciente permite que esta rede assuma o controlo da situação.

Identificado e estudado pela primeira vez no século passado pelo célebre psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, o fluxo criativo refere-se a um estado de espírito imersivo que parece promover o prazer, a inspiração e a determinação.

Nas palavras de Csikszentmihalyi, o fluxo é “um estado em que as pessoas estão tão envolvidas numa atividade que nada mais parece importar; a experiência é tão agradável que as pessoas continuarão a fazê-la mesmo com um grande custo, apenas por fazê-la".

O estudo para entender como ser criativo

Um total de 32 guitarristas de jazz foram recrutados para o novo estudo. Com idades entre 18 e 55 anos, os voluntários tinham entre 4 e 33 anos de formação musical. Um elétrodo de eletroencefalograma (EEG) registou a atividade cerebral de cada guitarrista enquanto tocavam, em sessões que duraram cerca de 90 minutos.

Como demonstraram investigações anteriores, a improvisação musical parece ativar regiões cerebrais associadas à auto expressão, incluindo linguagem e imagens visuais, ao mesmo tempo que acalma áreas associadas à inibição. No novo estudo, os investigadores pretendiam responder a uma questão persistente sobre a natureza do fluxo.

criatividade, ser humano, ideia
Yongtaek Oh, investigador de pós-doutoramento na Universidade Drexel, toca guitarra enquanto os seus eletroencefalogramas (EEG) são gravados. Crédito: John Kounios.

Segundo alguns, o fluxo é um estado de hiperconcentração que evita distrações e otimiza o desempenho numa tarefa específica. Mas, como o próprio Csikszentmihalyi apontou, as pessoas que vivenciam o fluxo descrevem-no não tanto como um estado de hiperconcentração, mas como um desapego, como se se deixasse levar pela corrente da água.

Para testar estas duas visões de fluxo criativo, os investigadores ligaram os guitarristas a EEGs de alta densidade e pediram-lhes que improvisassem seis canções de jazz com acompanhamento programado de bateria, baixo e piano. Os guitarristas então avaliaram a intensidade da sua experiência de fluxo.

Os investigadores obtiveram 192 gravações de improvisações de jazz dos guitarristas, que depois tocaram individualmente para quatro especialistas em jazz, que avaliaram a criatividade e outros atributos de cada um. A equipa de investigação também analisou EEGs para descobrir quais partes do cérebro dos guitarristas estavam associadas a improvisações de alto fluxo.

A chave para ser criativo: experiência mais libertação

De acordo com o estudo, guitarristas mais experientes tiveram fluxos criativos mais frequentes e intensos durante a improvisação do que guitarristas menos experientes.

criatividade, humanos
Guitarristas mais experientes tiveram fluxos criativos mais frequentes e intensos enquanto improvisavam.

O conhecimento derivado da experiência faz parte do segredo do fluxo, mas não é tão simples, dizem os investigadores. Os eletroencefalogramas também mostraram menor atividade no giro frontal superior, uma região do cérebro associada ao controlo executivo. Esta descoberta ajusta-se à ideia de que o fluxo criativo depende, em parte, da diminuição do controlo consciente, ou de "deixar-se levar".

No geral, o novo estudo apoia o conceito de “experiência mais libertação” de fluxo criativo, explica John Kounios, coautor e diretor do Laboratório de Investigação de Criatividade.

"Uma implicação prática destes resultados é que os estados de fluxo produtivo podem ser alcançados através da prática para acumular experiência numa determinada saída criativa, junto com o treino para retirar o controlo consciente quando se alcançou a experiência suficiente", disse Kounios. "Esta pode ser a base de novas técnicas para instruir as pessoas na produção de ideias criativas", concluiu.

Referência da notícia:

Rosen, D. et. al. Creative flow as optimized processing: Evidence from brain oscillations during jazz improvisations by expert and non-expert musicians. Neuropsychologia, v. 196, 2024.