Quando o oceano avança: os efeitos das alterações climáticas

O nível do mar tem vindo a subir mais rapidamente nos últimos anos. E isto é apenas o inicio de uma tendência que vai mudar dramaticamente grande parte da nossa costa. Quanto tempo ainda temos para arranjar uma solução? Como nos podemos defender do mar?

Subida do nível das águas do mar
Uma das consequências mais dramáticas do aquecimento global é a ameaça nas áreas costeiras causada pelo aumento do nível do mar.

A zona costeira é a zona mais povoada do nosso planeta. A população das cidades costeiras cresce muito mais depressa do que no interior. No mundo há 136 cidades costeiras com mais de um milhão de habitantes. A população dessas cidades é de cerca de 400 milhões de pessoas e cerca de 10% (40 milhões de pessoas), já vivem em planícies de cheias com o nível atual do mar.

O nível do mar está a subir em todo o mundo, ondas e tempestades gigantes são frequentes nas regiões costeiras, quando o nível do mar sobe. Os cientistas consideram-nas a primeira fase de um processo que já começou há muito tempo.

Em cidades costeiras planas, como Nova Iorque o limite crítico para uma inundação permanente é a subida de 1 metro do nível do mar. Metrópoles inteiras debaixo de água será uma cenário de ficção científica? Ou será apenas o futuro?

Segundo o cientista Klaus Jacob da Universidade da Colúmbia, em 2000, alguns cientistas reuniram-se em Nova Iorque e perceberam que tinham que alertar as pessoas sobre os riscos que corriam. Esta cidade tem um ponto fraco, as suas artérias principais são subterrâneas e em apenas 40 minutos o metro pode ficar inundado.

Furacão Sandy
Uma das tempestades mais intensas a atingir os Estados Unidos paralisou grande parte da costa atlântica americana, deixando mais de cinco milhões de pessoas sem energia elétrica em dez estados.

Os casos de Nova Iorque e Veneza

Em outubro de 2012 com a passagem do furacão Sandy, 100 mil casas ficaram inundadas, 44 pessoas perderam a vida, milhões de pessoas ficaram sem eletricidade durante semanas. O furação causou danos no valor de mais de 19 mil milhões de dólares. A cidade ficou com água até ao pescoço. Foi um evento extremo que, estatisticamente, só devia acontecer uma vez a cada 100 anos. Esta estatística consolou Nova Iorque, mas os cálculos tinham como premissa um nível do mar sempre igual.

Já do outro lado do Atlântico, em Veneza, há partes da cidade que estão a menos de 1 metro acima do nível do mar. Desde que a subida do nível das águas acelerou, a frequência das cheias aumentou. Cada centímetro é importante. Contudo, neste momento, para o próximo século, Veneza tem uma solução.

Começou com uma catástrofe, em novembro de 1966 o nível das águas subiu 194 cm, mesmo quando os cientistas diziam que tinha sido um acontecimento extremo que só acontecia uma vez a cada 200 anos. No entanto, a cidade quis preparar-se, nunca mais queriam passar por algo assim e inventaram algo que separa a lagoa de Veneza do mar, em caso de emergência, uma barreira chamada MOSE.

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O MOSE fica no fundo do mar e em caso de cheias, 70 portões, cheios de ar são impulsionados para cima. A lagoa fica fechada, isolada do mar. A construção começou há décadas, é essa a sua grande falha.

Segundo Monica Ambrosini, engenheira do MOSE, esta infraestrutura foi dimensionada tendo em conta os cenários do IPCC, do final dos anos 90 do século XX e foram considerados os piores cenários, ou seja, uma subida de 60 cm do nível do mar no próximo século. Contudo, o pior cenário possível foi alterado, agora é de mais de um metro para este século e se isso ou algo pior acontecer, o MOSE não é a solução.

Segundo o relatório mais recente sobre as Alterações Climáticas não é muito provável, mas também não é impossível. Até 2100, uma subida de 2 metros do nível do mar não é de descartar. Se não forem reduzidas as emissões de gases de estufa, cerca de 200 milhões de pessoas poderiam perder as suas casas, é uma questão de tempo.

Com estas inovações estaremos apenas a adiar o inevitável?

Para os cenários mais prováveis deste século ainda temos soluções, mas quanto mais longe olharmos para o futuro, mais difícil é proteger as infraestruturas das nossas costas. Será algo que tem um tempo de vida limitado, na melhor das hipóteses, um século, e depois?

O horizonte temporal para os prognósticos e para as medidas de proteção é o ano de 2100, mas para os mares, este limite temporal é indiferente, vão continuar a subir mesmo depois disso. Sem medidas de proteção, muitas regiões podem ficar submersas ainda neste século. Se os prognósticos mais pessimistas se realizarem, muitas cidades costeiras tornar-se-ão inabitáveis.