Porque é que os golfinhos de Roma se estão a virar uns contra os outros? A surpreendente descoberta de estudo científico
Os “golfinhos do Capitólio”, como lhes chamaram os investigadores italianos, habitam a costa de Roma há milhares de anos, como o demonstram vários mosaicos da época romana.

Roma é conhecida mundialmente como a famosa Cidade Eterna, reverenciada pela sua história, arte, cultura e gastronomia. No entanto, poucos sabem que a menos de uma hora de distância, onde o rio Tibre desagua no Mar Tirreno, existe algo que torna a área ainda mais única: uma população de cerca de 500 golfinhos roazes.
Os “golfinhos Capitolinos”, como os investigadores italianos os apelidaram, habitam a costa dos arredores de Roma há milhares de anos, como comprovam os mosaicos do sítio arqueológico de Ostia Antica, que os retratam a roubar peixe das redes dos pescadores há 2000 anos. No entanto, só recentemente, desde 2016, é que têm sido estudados em profundidade.
O que está a acontecer aos golfinhos de Roma?
Um estudo recente, publicado em abril de 2025 na revista Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems, analisou mais de 400 fotografias tiradas entre 2016 e 2023, envolvendo 39 golfinhos da população residente.
Liderado por Daniela Silvia Pace, investigadora da Universidade La Sapienza de Roma, e pela sua aluna de doutoramento Alice Turchi, o estudo examinou os sinais físicos no corpo dos golfinhos, uma técnica comum para avaliar a saúde e as condições de vida dos cetáceos.
Mais alarmante ainda é o elevado número de marcas de mordidelas, o que indica um aumento dos conflitos entre golfinhos, provavelmente ligado à competição por recursos alimentares cada vez mais escassos no Mar Tirreno central.
Conflito interno motivado pela escassez de recursos alimentares
Embora o estuário do rio Tibre seja tradicionalmente uma zona rica em alimentos, o estudo sugere que a abundância de presas está a diminuir, provavelmente devido à sobrepesca.

Estos conflictos no sólo son una señal de estrés, sino también un indicador de un ecosistema bajo presión, donde los delfines, conocidos por su naturaleza sociable, se ven obligados a luchar por sobrevivir.
“É estranho, porque estamos numa zona rica em alimentos”, comentou Alice Turchi. “A maior parte da população está subnutrida e este é um forte sinal de alarme”, acrescentou Daniela Silvia Pace.
Estes conflitos não são apenas um sinal de stress, mas também um indicador de um ecossistema sob pressão, onde os golfinhos, conhecidos pela sua natureza sociável, são forçados a lutar pela sobrevivência.
O impacto da poluição e das atividades humanas
A poluição é outro fator crítico que ameaça os golfinhos do Capitólio. O rio Tibre transporta uma quantidade significativa de poluentes para as águas costeiras, incluindo resíduos e detritos de embarcações, que comprometem a qualidade da água.

Este facto contribui para a elevada incidência de doenças de pele observadas nos golfinhos. Além disso, as atividades de pesca, com as suas redes e linhas, representam um perigo físico direto, causando ferimentos e, em alguns casos, mutilações. A combinação destes fatores está a pôr à prova a resiliência desta população, apesar de os golfinhos roazes serem conhecidos pela sua capacidade de adaptação.
A importância da conservação
Apesar dos desafios, os investigadores sublinham que ainda há esperança para os golfinhos de Roma. No entanto, a zona costeira não é atualmente gerida, o que significa que não existem medidas de conservação significativas para proteger esta faixa de mar.
Alice Turchi e a sua equipa propõem a criação de um Sítio de Importância Comunitária (SIC), que poderia garantir uma maior proteção não só para os golfinhos, mas para todo o ecossistema marinho da zona.
No entanto, Daniela Silvia Pace adverte que o processo para obter tal designação é muito complexo e requer um forte empenhamento político. Os investigadores esperam que uma maior sensibilização do público para a situação dos golfinhos leve os decisores políticos a tomar medidas concretas para a sua proteção.