O dilema dos toalhetes húmidos: segurança clínica vs. crise ecológica e confusão do consumidor

Toalhetes húmidos: plástico essencial na saúde choca com proibição ambiental e a confusão do consumidor sobre o descarte. Saiba mais aqui!

Os fatbergs são o resultado mais bizarro e chocante do descarte incorreto de toalhetes húmidos e gorduras.

O tema dos toalhetes húmidos (wet wipes) encontra-se no centro de um debate complexo, onde a necessidade funcional no setor da saúde se choca diretamente com as preocupações ambientais e de infraestrutura hídrica. A análise das fontes aponta para uma tripla dimensão deste problema: a importância do plástico no controlo de infeções, a confusão do consumidor sobre o descarte e, por fim, a resposta regulatória para mitigar a poluição plástica.

A necessidade do plástico no controlo de infeções

No setor hospitalar e clínico, o uso de toalhetes e materiais descartáveis é uma medida crucial, e muitas vezes indispensável, para a prevenção e controlo de infeções relacionadas com a assistência à saúde (IRAS). Em ambientes de alto risco, como Unidades de Cuidados Intensivos (UCI), o risco de contaminação cruzada é elevado, tornando o material de uso único uma barreira de segurança vital.

Estima-se que mais de 80% da poluição que atinge os oceanos tem origem em terra e é transportada para o ambiente marinho através de esgotos e rios.

Os toalhetes de limpeza hospitalar e Equipamentos de Proteção Individual (EPI), como aventais e luvas, dependem frequentemente de polímeros plásticos – como o polipropileno ou o polietileno – para garantir a sua funcionalidade.

A principal característica exigida é a impermeabilidade e a resistência, que impede que os fluidos corporais e os agentes patogénicos atravessem o material, garantindo a contenção e a eliminação segura após a utilização.

Esta necessidade funcional no contexto de saúde é amplamente reconhecida. O plástico, neste cenário, não é uma mera conveniência, mas sim um componente de segurança sanitária essencial.

O fim da certificação "Fine to Flush" e a confusão do consumidor

Em contraste com o uso clínico, a maioria dos problemas ambientais e de infraestrutura hídrica resulta do uso e descarte incorreto de toalhetes de higiene pessoal e doméstica. Muitos consumidores deitam estes artigos na sanita, assumindo incorretamente que eles se desfazem como o papel higiénico.

Para tentar distinguir os produtos que se desintegram de forma segura, o setor da água do Reino Unido estabeleceu o esquema de certificação "Fine to Flush" (Bom para descartar na sanita).

Contudo, este esquema foi descontinuado em março de 2024. Esta decisão foi motivada pelas preocupações governamentais de que a rotulagem de produtos de uso único estava a causar confusão significativa entre os consumidores, agravando o problema do descarte incorreto.

O descarte inadequado de toalhetes, muitos dos quais contêm plástico, é um dos principais fatores que contribuem para a formação dos chamados "fatbergs" – massas gigantes de gordura, lixo e resíduos aglomerados que bloqueiam e danificam os sistemas de esgotos.

Resposta ambiental e ação legislativa

A ameaça ambiental causada pelos toalhetes húmidos de consumo que contêm plástico levou a fortes ações legislativas. O Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais (Defra) do Reino Unido – com base em investigações e consultas públicas – identificou estes produtos como uma fonte desnecessária de poluição por plástico e microplásticos.

Mesmo que não sejam visíveis, os toalhetes de plástico não se desintegram; fragmentam-se em microplásticos.

O objetivo principal da legislação proposta é reduzir rapidamente o dano ambiental e encorajar a mudança para alternativas sem plástico ou reutilizáveis. O plano visa banir a venda e o fornecimento de toalhetes de consumo que contenham plástico. Esta proibição abrange até mesmo alguns plásticos rotulados como biodegradáveis ou compostáveis, devido à falta de provas de que se degradam de forma fiável no ambiente aquático.

Em resumo, a discussão em torno dos toalhetes húmidos exige uma abordagem de dois níveis: proteger a saúde humana mantendo a funcionalidade dos materiais clínicos essenciais (mesmo que plásticos), e proteger o meio ambiente através da intervenção legislativa e da educação do consumidor para eliminar o plástico evitável no mercado de consumo e garantir o descarte correto.

Referência da notícia:

https://mag.nationalhealthexecutive.com/articles/why-wiping-away-infection-requires-the-use-of-plastics
https://www.water.org.uk/news-views-publications/news/fine-flush-certification-end
https://sciencesearch.defra.gov.uk/ProjectDetails?ProjectId=21788