IA e Comunicação Interespécies: estamos prestes a falar com baleias?

Os avanços na inteligência artificial estão a tornar possível decifrar a linguagem de animais como baleias e golfinhos. Será que estamos preparados para os escutar? Descubra aqui!

Baleia-jubarte
O uso de Inteligência Artificial generativa tem sido essencial pois permite analisar milhões de vocalizações.

Durante séculos, os seres humanos observaram o comportamento animal com fascínio, com o objetivo de decifrar os sons, gestos e sinais utilizados por outras espécies para comunicar.

Hoje, graças ao avanço da inteligência artificial, essa antiga curiosidade pode estar prestes a tornar-se numa realidade concreta.

Segundo o The Guardian projetos ambiciosos à volta do mundo estão a utilizar tecnologias de ponta para traduzir as linguagens dos animais, especialmente dos cetáceos, como baleias e golfinhos cujas vocalizações complexas e estruturadas sugerem um sistema de comunicação sofisticado.

Contudo, à medida que nos aproximamos da possibilidade de dialogar com outras espécies, surge uma questão fundamental: estamos preparados para ouvir e compreender o que a natureza tem a nos dizer?

A possibilidade de traduzir a linguagem dos animais

É graças a projetos como o CETI (Iniciativa de Tradução de Cetáceos), que utilizam grandes modelos de linguagem para decifrar os sons produzidos por cetáceos, como os cachalotes, que se comunicam por codas, ou seja, sequências rápidas de cliques, cada uma com a duração de um milésimo de segundo.

"As canções das baleias-jubarte são espetáculos vocais incríveis, que por vezes duram até 24 horas." Ecologista Jakob von Uexküll

Segundo os cientistas há indícios de que estes animais têm estruturas linguísticas complexas. A expectativa é que até 2026 se consiga estabelecer uma forma básica de “conversa” com baleias.

A utilização de IA generativa tem sido essencial, permitindo analisar milhões de vocalizações

Outro exemplo recente é o DolphinGemma, da Google, treinado com 40 anos de dados sobre golfinhos. Já se registraram interações entre espécies em que golfinhos associaram sons a conceitos humanos, como algas.

Exemplos de comunicação ativa entre humanos e animais incluem uma gravação de 20 minutos de troca de sinais acústicos com uma baleia-jubarte chamada Twain, e um golfinho chamado Zeus, que conseguiu imitar sons de vogais humanas.

Apesar do entusiasmo, os cientistas alertam para o impacto humano no meio ambiente, especialmente no oceano.

O ruído crescente das embarcações e extração de minerais ameaça o “espaço acústico” que os animais marinhos utilizam para se comunicar.

Golfinho
Na Flórida, descobriu-se que um golfinho chamado Zeus aprendeu a imitar os sons das vogais A, E, O e U.

As "canções" vindas das baleias parecem incluir frases rimadas e as suas composições viajam com elas pelos oceanos, sendo estas cruciais para as épocas de migração e reprodução.

A comunicação entre espécies, no entanto, vai além do som

Os animais usam também sinais visuais, químicos e térmicos, e habitam mundos perceptivos distintos dos humanos.

Segundo o ecologista Jakob von Uexküll, a tradução da linguagem animal é comparada ao contato com vida extraterrestre.

O CETI remete ao SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence), e cientistas acreditam que aprender a falar com baleias pode ajudar no eventual contato com alienígenas.

Todavia, o essencial é aprender a escutar o que a natureza já vem a dizer há muito tempo. Mais do que tentar falar com animais, deveríamos ouvir melhor os alertas que eles nos dão sobre o impacto humano no planeta.