Descoberta em Coimbra pode abrir caminho a tratamentos cerebrais adaptados à idade

Estudo sobre as microglias foi liderado pela Universidade de Coimbra, e pode abrir caminho a abordagens terapêuticas ajustadas à idade e ao tipo de lesão cerebral.

Microglias
Microglias são células do sistema nervoso central que assumem um papel essencial na defesa imunológica do cérebro, combatendo infeções e patogénicos.

As microglias são células do sistema nervoso central, que assumem um papel essencial na defesa imunológica do cérebro, combatendo infeções e patogénicos. Perante o contributo vital destas células, uma equipa de investigação internacional, liderada pela investigadora da Universidade de Coimbra (UC), Vanessa Coelho-Santos, procurou perceber como é que se comportam ao longo da vida, desde o nascimento e durante o envelhecimento.

Esta investigação foi desenvolvida com recurso a uma técnica de captação de imagem de ponta, chamada microscopia de dois fotões, que permite captar imagens de alta resolução do cérebro ao longo do tempo.

Com o avançar da idade, as microglias alteram e comportam-se de forma diferente perante lesões no cérebro

Os cientistas foram capazes de descobrir que, com o avançar da idade, as microglias se alteram e comportam de forma distinta perante lesões no cérebro, acreditando que as conclusões desta investigação podem abrir caminho a abordagens terapêuticas ajustadas à idade e ao tipo de lesão cerebral.

“Neste estudo, em modelo animal, usámos um laser de alta precisão para causar danos localizados no tecido cerebral e, com a mesma potência, simular lesões vasculares que bloqueiam temporariamente o fluxo sanguíneo. Isso permitiu comparar as respostas microgliais a diferentes tipos de lesão ao longo da vida, concluindo-se que a idade tem um impacto marcante na morfologia e dinâmica das microglias em resposta a diferentes tipos de lesões cerebrais”, afirma Vanessa Coelho-Santos.

Com o avançar da idade, as microglias alteram e comportam-se de forma diferente perante lesões no cérebro, algo que poderá levar à elaboração de abordagens terapêuticas ajustadas à idade e ao tipo de lesão cerebral. Fonte: Physiological and injury-induced microglial dynamics across the lifespan, Tieu, Taryn et al., Cell Reports, Volume 44, Issue 7, 115991.

“Esta variabilidade ajuda a explicar vulnerabilidades distintas ao longo da vida, como mecanismos associados a doenças do neurodesenvolvimento, quando há resposta inflamatória nas fases iniciais de vida, assim como défices de resposta em idades avançadas”, acrescenta a investigadora do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da UC.

Apesar de as microglias serem determinantes para o funcionamento do cérebro, ainda há múltiplos aspetos sobre o seu comportamento ao longo do tempo que permanecem desconhecidos.

Foi neste contexto que Vanessa Coelho-Santos, em conjunto com uma equipa do Seattle Children’s Research Institute (Instituto de Investigação Infantil de Seattle), estudou “a evolução morfológica e funcional destas células, desde o nascimento até à idade sénior”.

A equipa de investigação procurou ainda “caracterizar a resposta das microglias a duas formas de lesões localizadas, em diferentes idades ao longo da vida, um aspeto que até agora permanecia pouco explorado”, partilha a neurocientista.

Terapêuticas mais personalizadas à vista?

O estudo, agora publicado na revista científica Cell Reports, fundamenta que, na idade adulta, as microglias são bastante eficazes na resposta a lesões. Já no período neonatal (primeiros 28 dias de vida), embora sejam mais dinâmicas, apresentam uma reação tardia e exagerada à lesão. Já no envelhecimento, as microglias perdem complexidade e respondem a lesões de forma mais lenta.

“Ao percebermos como é que as microglias se distribuem e atuam na defesa do cérebro em diferentes fases da vida, acreditamos que podemos, futuramente, criar terapêuticas mais personalizadas”, conclui Vanessa Coelho-Santos.

Referências da notícia

Physiological and injury-induced microglial dynamics across the lifespan, Tieu, Taryn et al., Cell Reports, Volume 44, Issue 7, 115991.

Células que protegem o cérebro respondem de forma distinta a lesões em diferentes idades. Catarina Ribeiro. Universidade de Coimbra. 05 agosto 2025.