As fascinantes ondas da Nazaré, o que as torna tão gigantes?

A Nazaré é uma vila que se localiza a cerca de 130 km a norte de Lisboa e é um local muito famoso por causa do surf e das suas fascinantes ondas nascidas no Atlântico. Porque são tão gigantes?

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Quando há previsão de ondas gigantes na Nazaré, as multidões assistem em estado de excitação ao incrível espetáculo que funde Homem e Natureza, o surf.

A Nazaré é um hotspot de big riders - surfistas de ondas gigantes - e quando há previsão de ondas gigantes, esta vila portuguesa atrai multidões que se reúnem em estado de excitação para assistir a um espetáculo que funde a coragem humana - só ao alcance de alguns predestinados - e a natureza bela e terrível de ondas gigantes, como as que embatem neste local privilegiado no mundo.

De acordo com o site nazarewaves.com “as ondas gigantes ocorrem na Praia do Norte e o melhor local para observar é no sítio da Nazaré junto ao farol (Forte de São Miguel Arcanjo), do lado norte da Nazaré”.

Swell, um dos mecanismos marino-atmosféricos por detrás das ondas gigantes da Nazaré

O que é swell? Swell é a palavra inglesa (“intumescência”, em português) que define a formação de ondas dentro de zonas de geração, ou seja, a região onde ocorrem as tempestades. Quando isto acontece, a turbulência das tempestades estimula a superfície oceânica, dando origem a grandes ondulações que se propagam e viajam por longas distâncias e que aumentam em tamanho quando o mar fica mais raso. Deste modo, grandes ondas nascem - na Nazaré chegam a atingir 30 metros de altura - quando chega o momento de atingir a costa.

Contudo, existem mais aspetos de natureza morfológica que tornam única a Nazaré. Por exemplo, o seu canhão. Este relevo submarino (canyon ou canhão) estende-se por 210 km a oeste da costa portuguesa, exibindo uma batimetria (profundeza) de 4300 metros.

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Os distintos padrões de habitat que podem ser observados no canyon são influenciados por dois aspetos topográficos: as correntes fortes e, em consequência disso, as águas turvas. Isto molda o relevo destas áreas. A morfologia do canhão é assim constituída por declives extremamente íngremes, escarpas, terraços e subsidências, bem como um thalweg imensamente escavado na parte inferior do canhão.

A orografia do fundo marinho do canyon da Nazaré contém vários tamanhos de rochas e sedimentos que variam desde a areia até à lama fina. A grande variação no ambiente físico reflete-se na fauna diversa que habita o canyon e a biodiversidade local tende a diminuir com a profundidade.

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A Nazaré é um dos locais mais visitados do mundo pelos surfistas das ondas gigantes, ou big riders.

Porque são tão grandes as ondas da Nazaré?

Por norma, as ondas diminuem à medida que se aproximam da costa dado que o fundo do mar impulsiona-as contra o swell. Mas quando o fundo do mar é mais amplo, é acrescentada energia adicional às ondas, com a água a galgar vários metros para preencher esse espaço. Explica-se de seguida as características geográficas, geológicas e oceanográficas que tornam a Nazaré um local tão único e o porquê das suas ondas gigantes.

A ondulação chega do largo e termina na praia. Mas aproxima-se de dois fundos completamente distintos. A norte, uma praia normal; a sul, o canhão. A onda que se aproxima pela praia perde velocidade e aumenta em altura, mas a que se propaga sobre o canhão mantém a velocidade quase até chegar à praia, ultrapassando a onda que se aproximou pela praia e que vem pelo declive normal da plataforma.

O processo de ondas gigantes é o produto de dois swells que culmina naquilo que é designado como interferência construtiva (ondas que se sobrepõem, têm a mesma fase e em que uma delas “reforça” a outra). Em suma, as ondas são enormes porque se empilham umas sobre as outras.

Esta onda que se aproxima pelo canhão galga a vertente norte, rodando para cima da Praia do Norte. Quando a onda que galgou o degrau do canhão encontra a onda que se propagou pela plataforma e as suas amplitudes se somam, temos a onda gigante da Nazaré!

Além do canyon, existe um pequeno canal que expele a água para fora da costa, o que provoca um aumento na, já de si impressionante, altura das ondas.