‘Amizade improvável’: orcas e golfinhos revelam cooperação inédita em caçadas no Pacífico
Estudo mostra que interação antes interpretada como disputa por alimento é, na verdade, uma parceria funcional durante a busca pelo salmão Chinook.

Um estudo recém-publicado trouxe novas evidências sobre a complexidade das relações entre grandes predadores marinhos no Oceano Pacífico. Investigadores identificaram que orcas residentes e golfinhos-de-laterais-brancas do Pacífico, espécies que partilham as águas da Colúmbia Britânica, no Canadá, cooperam ativamente durante a caça ao salmão Chinook.
A interação observada contraria hipóteses anteriores que descreviam estes encontros como episódios de competição ou simples interferência dos golfinhos nas caçadas das orcas. Segundo os cientistas, os dados indicam um comportamento coordenado, no qual ambas as espécies investem energia e obtêm benefícios claros.
Para a autora principal do estudo, Sarah Fortune, a descoberta ajuda a redefinir a forma como essas relações são interpretadas. “Às vezes pode ter um amigo improvável que ajuda a guiá-lo a um banquete”, comparou a investigadora, ao explicar a lógica da parceria observada.
Sincronia sob a superfície
À primeira vista, as interações registadas a partir da superfície do mar pareciam caóticas. No entanto, imagens subaquáticas revelaram um elevado grau de sincronia entre orcas e golfinhos. Os investigadores observaram que ambas as espécies mergulham lado a lado e que os movimentos das orcas frequentemente seguem os dos golfinhos.
Estes registos também mostraram golfinhos a alimentarem-se de restos de peixe após a captura, o que reforça a ideia de troca mútua. Para os cientistas, isto afasta a noção de que os golfinhos estariam apenas a “roubar comida” ou a aproveitar-se do esforço das orcas.
Tecnologia para desvendar a cooperação
Para analisar a dinâmica da caça, a equipa utilizou etiquetas com ventosas instaladas em orcas residentes, equipadas com câmeras e gravadores acústicos. Drones complementaram a monitorização, oferecendo imagens aéreas sincronizadas com os registos submersos.

Ao todo, foram catalogados 25 eventos de perseguição conjunta. Em oito deles, houve partilha de salmão Chinook entre orcas, com a presença de golfinhos em quatro ocasiões. A análise acústica revelou ainda alternância nos períodos de ecolocalização entre as espécies.
Com base nestes dados, Fortune sugere que orcas e golfinhos possam “espiar” os sinais sonoros uns dos outros, usando os ecos produzidos para localizar as presas de forma mais eficiente durante a caça.
Impacto científico e ecológico
Especialistas independentes destacaram a relevância do estudo. Michael Weiss, diretor de investigação do Center for Whale Research, classificou o conjunto de dados como impressionante, embora realce que mais evidências são necessárias para confirmar cooperação plena.
A cientista Erin Ashe, da Oceans Initiative, afirmou que o trabalho amplia a compreensão sobre ecossistemas marinhos complexos. Segundo ela, a associação também pode oferecer aos golfinhos um tipo de refúgio junto às orcas que se alimentam de peixes, permitindo que avaliem riscos e evitem predadores mais perigosos na região.
Referências da notícia
CNN Brasil. Estudo revela orcas e golfinhos caçando juntos no Pacífico; veja vídeo. 2025