Mergulhe no cosmos e descubra sete reservas internacionais que protegem o céu noturno
A noite está seriamente ameaçada pela poluição luminosa, mas a organização internacional Dark Sky procura proteger o céu noturno, reconhecendo os locais que preservam os mistérios da escuridão.

Sabia que o céu noturno, no seu estado natural, já não é visível para 83% da população mundial? Na Europa e Estados Unidos é ainda pior com a percentagem a subir para 99%.
Custa a acreditar, mas os dados do Atlas Mundial da Iluminação Artificial, do Instituto de Ciência e Tecnologia da Poluição Luminosa, em Itália, mostram que a cegueira é ainda mais preocupante em países como Singapura, Kuwait, Qatar ou Emirados Árabes Unidos. Nestes destinos, a poluição luminosa é tão intensa que toda a população perdeu a capacidade de se adaptar à escuridão total.
O flagelo da poluição luminosa
O céu noturno está ameaçado e isso não é um apenas um problema que afeta só os astrónomos. A luz artificial, com origem na iluminação pública, nos edifícios, na publicidade e até nos faróis dos carros interfere com a vida selvagem, sobretudo entre os animais de hábitos noturnos, causando também vários distúrbios para a saúde humana, como insónias, stress, diabetes ou obesidade.
Diante deste flagelo, a Internacional Dark Sky é uma das poucas entidades que trabalha para proteger o céu noturno, reconhecendo os locais que preservam e protegem a escuridão. Ao longo das últimas duas décadas, a organização já certificou mais de 200 lugares pelo mundo inteiro.
São mais de 160 mil km2 de terras e céus noturnos atualmente protegidos em 22 países e nós selecionamos apenas sete que vale a pena visitar para passar algumas horas de cabeça perdida nas estrelas.
1 - Mont-Mégantic (Canadá)
- Localização: Quebeque
- Área: 5,300 km2
- Vida selvagem noturna: rena, raposa-vermelha, raposa-cinzenta, guaxinim, lontra, entre outros.
- Atrações celestes: mais de três mil estrelas podem ser vistas a olho nu, nesta região, com particular destaque para constelação Oríon e as suas duas estrelas mais brilhantes, a Betelgeuse e a Rigel.
Mont-Megantic foi a primeira reserva internacional de céu escuro a ser criada, em 2007, sendo ainda hoje uma referência para os países que procuram reduzir a iluminação pública e preservar a vida selvagem.

Os 34 municípios da reserva implementaram um conjunto de normas para combater o excesso de luz artificial, com quase três mil luminárias substituídas e um corte de 25% da poluição luminosa.
2 - Pic du Midi (França)
- Localização: Altos Pirenéus
- Área: 3,112 km2
- Vida selvagem noturna: grilo, sapo vermelho, morcego-anão, marmota, arminho, lagarto-pirenaico, entre outros.
- Atrações celestes: Via Láctea, constelações Escorpião, Ofiúco e Sagitário, ou planetas Saturno e Júpiter.
Pic du Midi ganhou em 2013 a sua certificação de reserva internacional Dark Sky. Conhecida como Réserve Internationale de Ciel Étoilé du Pic du Midi, em francês, atrai atualmente 1,5 milhões de visitantes por ano.

A área abrange um Património Mundial da UNESCO (Pyrénées-Mont Perdu) e o Parque Nacional dos Pirenéus. O Observatório Pic du Midi é uma das principais instalações de investigação astronómica da Europa.
3 - Central Idaho (Estados Unidos)
- Localização: Idaho
- Área: 3,668 km2
- Vida selvagem noturna: esquilo-antílope-de-cauda-branca, guaxinim, morcego-pálido, castor, opossum-da-virgínia, raposa-vermelha, entre outros
- Atrações celestes: Oríon, Ursa Maior, Via Láctea, Cassiopeia, galáxia de Andrômeda, entre outros.
Central Idaho foi a primeira reserva dos Estados Unidos a ser reconhecida em 2017 com o selo da Internacional Dark Sky.

Para preservar a experiência natural noturna, este parque natural não tem acesso a eletricidade, internet ou serviços de redes móveis.
A reserva é por isso considerada como um dos últimos paraísos imaculados do país com todas as condições para o astroturismo prosperar.
4 - Rhön (Alemanha)
- Localização: Reserva da Biosfera Rhön, Alemanha
- Área: 1,720 km2
- Vida Selvagem noturna: musaranho alpino, morcego bechstein, morcego-de-franja, borboleta eremita, sapo de barriga amarela, sapo parteira, leirão, coruja de celeiro, gato selvagem, entre outros.
- Atrações celestes: Via Láctea, Triângulo de Verão (Wega, Deneb e Atair), entre várias outras constelações.
A reserva estende-se pelos estados federais de Hesse, Bavaria e Turíngia e é reconhecida como Land der offenen Fernen (terra de horizontes sem fim).

Os céus mais escuros são mais abundantes na zona central, onde numa noite clara e sem lua, é possível ver seis mil estrelas acima das colinas de Rhön. Caminhadas, ciclismo ou esqui são algumas atividades promovidas pela reserva.
5 - Reserva Kerry (Irlanda)
- Localização: Península de Iveragh, Irlanda
- Área: 700 km2
- Vida Selvagem noturna: focas cinzentas, lontras, raposas
- Atrações celestes: Via Láctea, Galáxia de Andrômeda.
Com paisagens dramáticas e pouco habitadas, o céu noturno da Reserva Kerry, na Irlanda, é um extenso miradouro natural para observar chuvas de meteoros, contar satélites e até ver a Estação Espacial Internacional a passar a grande velocidade.
Há seis mil anos, os habitantes do Neolítico da Península de Iveragh construíram monumentos de pedra para rastrear os ciclos do Sol, da Lua e das estrelas.

A reserva Kerry preserva ainda esse legado, mantendo também estritas regras de iluminação para salvaguardar a vida selvagem.
Durante o inverno, o parque abriga aproximadamente metade da população mundial de gansos-de-testa-branca da Groenlândia. No outono, a migração das aves proporciona mais um espetáculo memorável nos céus da Irlanda.
6 - Reserva de Moore (Inglaterra)
- Localização: Parque Nacional South Downs, Inglaterra
- Área: 1,627 km2
- Vida selvagem noturna: texugo, doninha, gamo, libélulas (23 espécies), noitibó-da-europa, víbora, cobra lisa, lontra, mariposa, pirilampo ou várias espécies de morcegos.
- Atrações celestes: Sírio (a estrela mais brilhante do céu noturno), sete irmãs (Plêiades) ou Via Láctea
A 100 km da área metropolitana de Londres, o Parque Nacional South Downs, onde está localizada a Reserva de Moore, atua como um importante travão à expansão urbanística dos subúrbios da capital inglesa.

Com uma população de 100 mil habitantes, o parque atrai aproximadamente 39 milhões de visitantes anualmente, oferecendo atividades noturnas e diversos eventos organizados pelas sociedades de astronomia do país.
7 - Aoraki Mackenzie (Nova Zelândia)
- Localização: Ilha Sul, Nova Zelândia
- Área: 4300 km2
- Fauna noturna: gafanhoto, mariposa, escaravelho, mosca-dragão, ouriço, furão, lebre, entre outros.
- Atrações celestes: Cruzeiro do Sul, Nuvens de Magalhães, Via Láctea ou Aurora Australis.
Com 4367 km2, Aoraki Mackenzie é a maior reserva internacional no Hemisfério Sul e a segunda maior do mundo.
Situada na Bacia de Mackenzie, na Ilha Sul da Nova Zelândia, é um destino popular para a observação de estrelas devido ao seu céu limpo e livre de poluição luminosa.

A iluminação é rigorosamente regulamentada para proteger aquele que é o céu mais deslumbrante do país e onde se encontra o Observatório Monte John, o principal centro de investigação em astronomia da Nova Zelândia.
Referências da notícia
International Dark Sky Places. DarkSky Internacional
Fabio Falchi, Pierantonio Cinzano, Dan Duriscoe, Christopher C. M. Kyba, Christopher D. Elvidge, Kimberly Baugh, Boris A. Portnov, Nataliya A. Rybnikova, & Riccardo Furgoni. The new world atlas of artificial night sky brightness. Science Advances.