Tubarões sob o efeito de drogas: a realidade da poluição nos oceanos

O comportamento errático observado nalguns tubarões ao largo da costa da Flórida intrigaram os cientistas marinhos, que suspeitam que os majestosos predadores podem estar sob a influência de drogas.

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Os traficantes de droga despejam fardos de cocaína ao largo da costa da Flórida e poluem a água.

Parece o enredo de um filme de suspense e terro, mas não é. Na Flórida, os tubarões estão a comportar-se de forma estranha, e alguns acontecimentos levaram os investigadores a investigar a possibilidade de os predadores estarem sob a influência de cocaína.

Os tubarões nadam ao longo de uma zona de contrabando de droga, o que potencialmente expõe os predadores a alimentarem-se onde se encontram os pacotes flutuantes de narcóticos. "Este é o único local no mundo onde um tubarão pode entrar em contacto com doses tão grandes de cocaína", afirma Tom Hird, biólogo marinho sediado em Inglaterra.

Esta não é a primeira vez que uma história semelhante é relatada nos media. Em 1985, um urso negro causou pânico na Geórgia depois de se ter tornado extremamente violento após consumir pacotes de cocaína largados de um avião.

Hird acredita que a possibilidade de os tubarões encontrarem a droga é muito elevada. "Acredito plenamente que é real, especialmente com a quantidade de cocaína que está a ser lavada na Flórida", diz Hird. "E isto é apenas o material que dá à costa. Não inclui o material que é apanhado no oceano." Como a cocaína é solúvel em água, diz Hird, um tubarão que nadasse nas proximidades de um pacote danificado poderia teoricamente ficar drogado com o contacto.

Sob o título apelativo de "Cocaine Sharks", que será um dos programas em destaque na próxima Shark Week do Discovery, os cientistas vão procurar as respostas para este mistério. A Dra. Tracy Fanara, engenheira ambiental da Flórida e membro-chave da equipa de investigação, afirmou que este estudo pretende lançar luz sobre um problema muito real: a contaminação generalizada das massas de água naturais e dos cursos de esgotos por vários produtos químicos que acabamos por utilizar e deitar fora.

Comportamento e experiências

Os investigadores observaram um comportamento peculiar nos tubarões enquanto realizavam o seu estudo de seis dias em Florida Keys, um grupo de ilhas ecologicamente sensíveis ao largo da costa sul do estado.

Segundo os investigadores, um tubarão-martelo, uma espécie que normalmente evitaria os seres humanos, aproximou-se diretamente dos mergulhadores e moveu-se de forma errática. Esta espécie, que pode atingir 6 metros de comprimento e pesar mais de 227 quilogramas, estava a inclinar-se para um lado enquanto nadava, fazendo com que o tubarão, normalmente elegante, parecesse invulgarmente instável. Além disso, observaram um tubarão-tigre a nadar em círculos, aparentemente concentrado num objeto inexistente.

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Para compreender melhor o efeito da cocaína nestes animais, os investigadores realizaram experiências adicionais. Atiraram fardos fictícios de cocaína para a água ao lado de cisnes falsos para ver que objeto os tubarões preferiam. Para sua surpresa, vários tubarões ignoraram os cisnes e nadaram diretamente para os fardos.

De seguida, tentaram atirar para a água bolas de isco cheias de pó de peixe concentrado. De acordo com Hird, este pó é conhecido por desencadear um efeito de dopamina no cérebro do tubarão. Neste caso, o isco provocou uma agitação nos tubarões, semelhante à forma como a erva-dos-gatos irrita os felinos. Os investigadores esperavam que os tubarões associassem esta estimulação à "cocaína". Por fim, a equipa voltou a lançar fardos falsos na água, mas desta vez a partir de aviões para simular um cenário de lançamento de droga. Vários tubarões nadaram para investigar a queda, o que, segundo Hird, soa um pouco como um peixe a lutar por um tubarão.

A equipa de investigação escolheu as Florida Keys como local de estudo devido ao aparecimento frequente de fardos de cocaína flutuantes na região. A Flórida é um ponto de partida para grandes quantidades de drogas que entram nos Estados Unidos vindas da América do Sul, e é comum que pacotes de cocaína embrulhados em plástico se percam no mar ou sejam largados pelos traficantes para evitar a captura pelas forças da lei.

No entanto, a quantidade exata de cocaína que os tubarões estão a ingerir é ainda desconhecida. As experiências realizadas foram apenas preliminares e os investigadores sublinham a necessidade de uma investigação mais aprofundada no futuro.