Tetraca-escuro: ave que se temia estar extinta é redescoberta em Madagáscar

Após ter desaparecido durante 24 anos, o esquivo tetraca-escuro foi finalmente descoberto recentemente por uma equipa de cientistas nas remotas florestas de Madagáscar.

tetraca-escuro; xanthomis tenebrosa
Lily-Arison Rene de Roland, líder da expedição, com um tetraca-escuro. Créditos: John C. Mittermeier.

Numa rara história de boas notícias sobre uma espécie ameaçada de extinção, o tetraca-escuro (Xanthomixis tenebrosa) foi avistado em Madagáscar pela primeira vez em 24 anos.

A elusiva ave canora tinha escapado à deteção durante tanto tempo que se temia a sua extinção, mas três espécimes foram registados em áreas remotas no nordeste de Madagáscar nos últimos meses, por uma equipa de expedição liderada pelo Programa Peregrin's Fund de Madagáscar.

Antes disso, o último avistamento documentado do tetraca-escuro foi em 1999, tornando-o uma das "espécies perdidas" mais procuradas. O seu ressurgimento foi celebrado por ornitólogos, suscitando novas esperanças para a sua conservação.

"Agora que encontrámos o tetraca-escuro e compreendemos melhor o habitat em que vive, podemos procurá-lo noutras partes de Madagáscar, e aprender informações importantes sobre a sua ecologia e biologia", disse Lily-Arison Rene de Roland, diretor do Programa do Peregrin's Fund de Madagáscar, e líder da expedição. "Há muita biodiversidade ainda por descobrir em Madagáscar".

O reaparecimento do tetraca-escuro "uma verdadeira surpresa"

René de Roland e a sua equipa partiram para encontrar o tetraca-escuro em dezembro de 2022, caminhando durante meio dia por encostas íngremes de montanha até ao local onde a espécie foi avistada pela última vez. Encontraram a área amplamente destruída, tendo a floresta sido ilegalmente desbravada para dar lugar a quintas de baunilha.

Apesar deste revés, uma equipa separada apanhou e libertou um tetraca-escuro numa rede de neblina na península de Masoala, descrevendo a descoberta como "uma verdadeira surpresa". A equipa de Rene de Roland encontrou então dois tetracas-escuros ao entardecer perto de um rio rochoso próximo de Andapa.

Rio
O rio rochoso de Madagáscar, onde dois dos tetracas-escuros foram avistados. Créditos: John C. Mittermeier.

A espécie, caracterizada pela coloração verde-oliva escura com garganta amarelada e anel ocular, não foi encontrada no seu habitat anteriormente documentado - algo que a equipa diz ser talvez uma razão pela qual a sua presença tem sido negligenciada há tanto tempo.

Contudo, como a grande maioria da floresta tropical no nordeste de Madagáscar já foi destruída, os cientistas acreditam que o tetraca-escuro está ameaçado de extinção.

A procura de aves perdidas

O tetraca-escuro foi uma das 10 aves perdidas mais procuradas na Search for Lost Birds, uma colaboração da Re:wild, da American Bird Conservancy e da BirdLife International. Esta iniciativa, lançada em 2021, procura aves que não tiveram um avistamento documentado em mais de 10 anos.

O tetraca-escuro é a segunda espécie a ser redescoberta pelo projeto, após o avistamento do Santa Marta Sabrewing, na Colômbia, em julho de 2022. Entre as outras 8 aves no top 10 da lista estão a coruja Siau scops, a kōkakō da Ilha do Sul, a codorniz dos Himalaias, o nightjar de Itombwe e o papagaio-cubano.