Será que o aquecimento da atmosfera irá abrandar com a captura de carbono?

A captura e armazenamento de carbono é uma iniciativa que tem como principal finalidade impedir a emissão de grandes quantidades de dióxido de carbono para a atmosfera.

Emissões para a atmosfera
A queima de combustíveis fosseis tem contribuído para um aumento descontrolado do dióxido de carbono na atmosfera.

Numa reunião recente, especialistas afirmaram que a remoção do excesso de dióxido de carbono da atmosfera pode contribuir muito para abrandar o aquecimento global.

Captura e armazenamento de carbono – do que se trata?

O dióxido de carbono (CO2) é um composto natural e importante da atmosfera do planeta Terra, mas a atividade humana, principalmente a queima de combustíveis fósseis e a atividade agrícola, elevou este gás a níveis perigosos, provocando um aquecimento global da atmosfera.

O atual nível de concentração de 422 ppm (partes por milhão) de CO2 na atmosfera revela um aumento de 50% da presença do gás desde o início da Revolução Industrial, há mais de 200 anos.

Assim é importante desencadear ações que contribuam para diminuir a quantidade de CO2 da atmosfera. Além da mudança para fontes de energia mais ecológicas, como a solar e a eólica, uma das ações passa pela captura e armazenamento do carbono.

Recentemente realizou-se um evento na USC Dornsife (University of Southern California Dornsife), onde especialistas se reuniram para discutir as promessas e os problemas da tecnologia de captura de carbono.

Existem diferentes processos para a captura de carbono. O mais natural é o que é feito pelos oceanos, florestas e outros locais onde os organismos, por meio da fotossíntese, capturam o carbono e lançam oxigénio na atmosfera.

Através dos oceanos desencadeia-se também um processo natural, em que o carbono é sugado para a água, onde reage com a rocha calcária no fundo do oceano e o converte em bicarbonato sólido.

Oceano
Um dos processos naturais da Terra para a captura de carbono é através dos oceanos.

No entanto, tal como é referido por William Berelson, Paxson H. Offield, Professor em Sistemas Costeiros e Marinhos e Professor de Ciências da Terra, Estudos Ambientais e Ciências Espaciais, o problema é que a Terra gere este processo muito lentamente, enquanto o Homem tem emitido CO2 para a atmosfera a um ritmo muito maior nos últimos 100 anos.

William Berelson espera aumentar o poder de absorção de carbono do oceano. Atualmente está a trabalhar num sistema de remoção de carbono que capta o CO2 produzido pela indústria naval, mistura-o com calcário e depois liberta-o de novo no oceano sob a forma de bicarbonato.

Além dos processos mais naturais, existem outros que têm sido desenvolvidos pelo homem, mas que ainda levantam algumas questões ambientais. Um deles é a captura do carbono e a sua colocação no subsolo.

Para isso são utilizadas tecnologias que possam por capturar o CO2 no ponto de emissão, submetê-lo a um processo químico, transformá-lo e guardá-lo. Esse armazenamento é realizado em formações geológicas em profundidade, como subsolo ou fundo do mar.

Existem, ainda, tentativas de capturar o dióxido de carbono diretamente do ar. No entanto, ainda é necessário investir em tecnologias mais sofisticadas que permitam esse feito.

Problemas na captura e armazenamento do carbono

Enquanto há investigadores, tal como Joe Árvai, diretor do Instituto Wrigley e Professor de Psicologia, Ciências Biológicas e Estudos Ambientais, que afirmam a necessidade do Homem se concentrar no desenvolvimento de tecnologias para captura do carbono, outros são críticos, argumentando que a remoção do carbono pode desincentivar o fim da dependência dos combustíveis fósseis.

Atualmente, não existe um grande mercado para o carbono, embora os cientistas pensem que isso poderá mudar um dia. Assim, pagar a instalação de uma fábrica de remoção de carbono pode ser um desafio.

De acordo com Joe Árvai, a política poderia ajudar a incentivar a mudança. Um governo pode exigir que as empresas que produzem emissões também as removam, sob pena de multas e suspensão das operações.

O facto das empresas terem de remover parte das emissões que produzem poderia criar incentivos de mercado para fazer baixar o custo da remoção do carbono e funcionaria também, essencialmente, como um imposto sobre as emissões.

Esta operação de captura do carbono, por parte das empresas, iria contribuir para que as empresas fizessem tudo o que estivesse ao seu alcance para não emitir.

A tecnologia básica para o processo de captura e armazenamento de carbono já existe há muitos anos. No entanto, o alto custo para o seu aprimoramento é um dos maiores entraves para a implementação extensiva deste projeto.

Seca
A implementação de sistemas eficientes e sustentáveis de captura e armazenamento de carbono contribuiria para desagravar em parte as alterações climáticas.

Os elevados custos impedem que os projetos de captura e sequestro de carbono sejam amplamente implementados nas indústrias e em outros locais onde for necessário. Além disso, existem investigações que consideram alguns riscos referentes às técnicas de armazenamento em formações geológicas em profundidade, como vazamentos acidentais e a ocorrência de terramotos.

Deste modo, enquanto existirem esses obstáculos, uma enorme quantidade de dióxido de carbono continuará a ser emitida, o que agravará cada vez mais as questões referentes ao aquecimento global.

Atendendo ao importante papel da captura do carbono, torna-se necessário o investimento em tecnologias sustentáveis que possibilitem a captura, bem como o armazenamento seguro desse gás, de forma que não seja nocivo ao meio ambiente.

No entanto, ainda se põe o problema das emissões herdadas. Mesmo que a produção de CO2 parasse subitamente, a atmosfera já tem demasiadas emissões que continuarão a contribuir para as alterações climáticas se não forem eliminadas.