Presidente do Zimbabué declara estado de emergência devido à seca provocada pelo El Niño

A declaração do estado de emergência no Zimbabué devido à severa seca provocada pelo El Niño coloca em evidência uma crise humanitária, com milhões de pessoas a enfrentar a escassez alimentar. Saiba mais aqui!

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O Zimbabué está em estado de emergência devido à seca. O El Niño é presumivelmente o principal responsável pela crise no país.

O presidente do Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, anunciou a declaração de estado de emergência nacional devido à seca originada pelo fenómeno climático El Niño, estimando-se que o país necessite de 2 mil milhões de dólares em assistência para aliviar a fome que afeta milhões de pessoas no país.

Ausência de precipitação pode explicar a origem do estado de emergência

A prolongada ausência de precipitação está na origem da devastação em toda a região da África Austral.

"É imperativo que nenhum cidadão zimbabueano padeça de fome", referiu Mnangagwa numa conferência de imprensa. "Com este propósito, declaro oficialmente estado de emergência em todo o país, devido à seca causada pelo El Niño."

Devido aos quantitativos de precipitação insuficientes, mais de 2,7 milhões de pessoas irão enfrentar a escassez alimentar durante o corrente ano. A colheita de cereais desta estação não está a suprir metade das necessidades alimentares da nação, acrescentou, o presidente do Zimbabué.

O fenómeno conhecido como El Niño, que se manifestou a partir de meados de 2023, aumentou as temperaturas globais durante o último ano, causando diversos incêndios e temperaturas recorde em várias partes do globo.

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O Zimbabué é o terceiro país na África Austral a declarar a seca como um desastre nacional, juntando-se aos casos do Malawi e à Zâmbia. Desta forma, esta medida permite ao governo procurar mais recursos junto da assistência internacional para enfrentar a crise.

A seca também afetou a produção de eletricidade, uma vez que o Zimbabué é altamente dependente da energia hidroelétrica.

De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), este El Niño é um dos cinco mais intensos já registados e o seu impacte poderá continuar a aumentar o calor retido na atmosfera pelos Gases com Efeito de Estufa (GEE).

Embora o El Niño tenha atingido o pico em dezembro, espera-se que as temperaturas acima do normal persistam até maio em quase todas as áreas terrestres, conforme indicado pela OMM.

Assistência humanitária e um problema em comum a outros países vizinhos

As regiões de cultivo alimentar no Malawi, Moçambique, Namíbia, Zâmbia e Zimbabué apenas registaram 80% da precipitação média durante o verão do hemisfério sul, de novembro a fevereiro, alertou a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, intensificando o risco de insegurança alimentar.

A precipitação em janeiro e fevereiro foi das mais escassas em 40 anos, de acordo com informações das Nações Unidas.

O coordenador da Organização das Nações Unidas (ONU) no Zimbabué, Edward Kallon, afirmou que estão a ser feitos esforços para mobilizar recursos e finalizar um plano de resposta. "Esta crise tem implicações abrangentes em diversos setores", frisou Kallon.

A seca tem levado muitas pessoas a recorrer a fontes de água impróprias, o que alimenta os surtos de cólera já presentes em vários países da África Austral, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).

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A seca no país está na origem de surtos de cólera causados pelo consumo de água imprópria. O país merece particular atenção, pois encontra-se numa situação particularmente grave.

Para complicar ainda mais as coisas, o El Niño também deverá causar chuvas intensas e inundações nos próximos meses, aumentando o risco de malária e de outras doenças.

Além disso, os produtores agrícolas zimbabueanos estão a importar milho geneticamente modificado da África do Sul, uma vez que não conseguem obter cereais dos fornecedores habituais da Zâmbia e do Malawi.

No entanto, um especialista nas áreas científicas do clima e agricultura, Tafadzwa Mabhaudhi, da Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul, salientou que o país também tem excedentes limitados para exportar aos países vizinhos.

"A importação de milho também resultará em aumentos nos preços dos alimentos, o que, mais cedo ou mais tarde, afetará a segurança alimentar das pessoas mais pobres, que já lutavam pela aquisição de dietas saudáveis", explicou à Agence France-Presse (AFP).

No mês passado, os pequenos agricultores zimbabueanos das áreas afetadas relataram à AFP que já estavam a ter dificuldades para alimentar as suas famílias, devido ao fracasso das colheitas e ao aumento dos preços dos alimentos.