Observação do plâncton: porque é tão importante para prever a próxima extinção em massa?

E se o plâncton pudesse avisar-nos da próxima extinção em massa de espécies? De acordo com um estudo, os movimentos destas plantas e animais marinhos que andam à deriva com as correntes são cruciais para prever o futuro do planeta.

Movimento oceânico do plâncton
Há cerca de 50 milhões de anos, quase todo o plâncton marinho se deslocou para as altas latitudes do planeta, entre o Círculo Polar Antártico e o Pólo Sul.

E se observássemos atentamente os movimentos do plâncton nos oceanos? Não, não se trata de uma sugestão rebuscada para ocupar as suas tardes, mas sim de um estudo muito sério com resultados surpreendentes realizado por uma equipa de investigadores das Universidades de Bristol (Reino Unido), Harvard, Texas (EUA) e Victoria (Austrália), publicado na revista Nature.

O que é que aconteceu há 53 milhões de anos?

Estes cientistas descobriram que, há cerca de 50 milhões de anos (mais precisamente entre 53 e 49 milhões de anos), quase todo o plâncton marinho, ou seja, todas as plantas e animais aquáticos que andam à deriva com as correntes, se deslocou para as latitudes mais elevadas, entre o Círculo Polar Antártico e o Pólo Sul.

Esta mudança surpreendente precedeu em vários milhões de anos uma extinção em massa de espécies marinhas no oceano. O que é ainda mais preocupante é que durante este período do Eoceno, entre 53 e 49 milhões de anos atrás, houve um "ótimo climático", ou seja, um período de temperaturas globais "persistentemente elevadas" que curiosamente faz lembrar os dias de hoje.

Os climatologistas estão inevitavelmente muito preocupados, uma vez que este "ótimo climático do Eoceno" está próximo dos cenários mais pessimistas de aquecimento global atualmente em estudo. É evidente que o plâncton deve ser objeto de um exame minucioso neste momento, pois a mais pequena alteração pode significar o mesmo cenário desastroso do Eoceno, com uma extinção em massa das espécies.

Um "sistema de alerta precoce"

É claro que os autores do estudo explicam que o passado nunca é o espelho do futuro e que se trata apenas de uma correlação entre o movimento do plâncton e o desaparecimento de espécies, não sendo de modo algum uma relação causal. No entanto, acreditam que o plâncton poderia funcionar como um aviso antes de uma suposta onda de extinção de espécies marinhas de maior dimensão.

O coautor do estudo, o Dr. Adam Woodhouse (Bristol), descreve, no entanto, o resultado como "entusiasmante", acrescentando que a observação do plâncton pode constituir um "sistema de alerta precoce" para prever a extinção da vida nos oceanos.

De facto, ao aplicar o seu modelo informático aos arquivos, a sua equipa revelou que, desde o desaparecimento dos dinossauros, as alterações no plâncton precederam frequentemente a extinção de certos organismos.

Trata-se de uma estreia mundial, que levou o Dr. Woodhouse a afirmar que os fósseis de plâncton constituem "o mais completo e extenso arquivo de alterações biológicas antigas de que a ciência dispõe". Este mesmo método deverá em breve ser aplicado a outros grupos de plâncton microscópico, talvez conduzindo a novas descobertas...