Nações Unidas afirmam que a crise climática está a ter forte impacto nas mulheres com o aumento da violência de género

Os impactos das alterações climáticas e dos seus eventos extremos são distribuídos de forma desigual, aprofundando desigualdades sociais já existentes no mundo.

Ondas de calor
Os impactos dos eventos extremos, tais como ondas de calor extremas, reforçam comportamentos violentos e de reafirmação de poder.

Além das desigualdades sociais, os impactos das alterações climáticas não afetam homens e mulheres da mesma forma e estão a criar mais desigualdades de género.

Iniciativa Spotlight da ONU

A Iniciativa Spotlight da Organização das Nações Unidas (ONU), é uma iniciativa de alto impacto das Nações Unidas para acabar com a violência contra mulheres e meninas.

Um relatório recente desta Iniciativa apresenta dados de diferentes estudos que abordam a relação existente entre a ocorrência de desastres naturais e o impacto nas mulheres.

Condições meteorológicas extremas, implicam muitas vezes deslocamento de populações, insegurança alimentar e instabilidade económica, fatores chave que aumentam a prevalência e a gravidade da violência de género.

Seca
Eventos climáticos extremos, como as secas, implicam muitas vezes o deslocamento das comunidades locais

Os impactos dos eventos extremos afetam mais fortemente as comunidades frágeis, nos países em desenvolvimento, onde as mulheres já enfrentam desigualdades enraizadas e são mais vulneráveis a agressões.

A violência de género já é uma epidemia global, destaca o relatório. Mais de mil milhões de mulheres, pelo menos uma em cada três, sofreram abuso físico, sexual ou psicológico ao longo da vida.

Estes números provavelmente estão subestimados, já que apenas cerca de 7% das sobreviventes registam uma queixa formal à polícia ou aos serviços médicos.

O peso da crise climática não é distribuído de forma igualitária. Mulheres e meninas que vivem na pobreza, incluindo pequenas agricultoras e aquelas que vivem em assentamentos urbanos informais, enfrentam uma vulnerabilidade ainda maior.

Em abrigos de emergência, muitas mulheres podem ficar confinadas com os seus próprios agressores. Esses efeitos diretos de eventos climáticos reforçam comportamentos violentos e de reafirmação de poder.

Além da violência de género, um estudo recente também refere o problema da saúde mental das mulheres nos países em desenvolvimento como uma consequência da crise climática. Este estudo identifica o deslocamento e a violência, os encargos com cuidados, os casamentos precoces de meninas, o tráfico de pessoas e a insegurança alimentar como os principais fatores de stress para a saúde mental das mulheres nesses contextos.

Crise climática e violência em mulheres

O relatório da Iniciativa Spotlight conclui que as alterações climáticas estão a intensificar as tensões sociais e económicas que alimentam o aumento dos níveis de violência contra mulheres e meninas.

Cada aumento de 1 °C na temperatura global está associado a um aumento de 4,7% na violência doméstica. Num cenário de aquecimento de 2 °C, é provável que mais 40 milhões de mulheres e meninas sofram de violência doméstica a cada ano, até 2090. Num cenário de 3,5 °C, esse número mais do que duplica.

A Iniciativa Spotlight identifica um padrão de aumento da violência após desastres climáticos.

Seca e mulheres
As mulheres são as que mais sofrem em situações climáticas extremas.

Só em 2023, 93,1 milhões de pessoas foram afetadas por desastres relacionados com o clima e terremotos, enquanto cerca de 423 milhões de mulheres sofreram violência por parte de seus parceiros.

À medida que os eventos extremos se tornam mais frequentes e severos, o risco de violência deve aumentar drasticamente.

Um estudo destacado no relatório constatou um aumento de 28% nos casos de assassínio de mulheres durante ondas de calor.

Sem medidas urgentes, as alterações climáticas poderão estar associadas a um em cada dez casos de violência doméstica até ao final do século.

Reconhecer os efeitos indiretos da crise climática é essencial para enfrentá-la de maneira mais justa e eficaz. A mitigação e a adaptação às mudanças climáticas e o combate à violência de género não são causas isoladas, são lutas interligadas que não podem ser ignoradas.

Uma das conclusões do relatório enfatiza que as soluções climáticas devem abordar direitos, segurança e justiça para serem eficazes ou sustentáveis.

A Iniciativa Spotlight apela à integração da prevenção da violência de mulheres em todos os níveis das políticas climáticas, desde estratégias locais até mecanismos de financiamento internacionais.

Exemplos de países como Haiti, Vanuatu, Libéria e Moçambique mostraram como os programas podem ser concebidos para abordar simultaneamente a violência e construir resiliência climática.

O relatório realça que acabar com a violência contra as mulheres e meninas não é apenas um imperativo dos direitos humanos, mas é essencial para alcançar um futuro justo, sustentável e resiliente às alterações climáticas.