Março de 2023: em que estado se encontram as nossas albufeiras?

Em finais de fevereiro, 15% das albufeiras monitorizadas apresentavam disponibilidades hídricas inferiores a 40% do volume total. Os valores de armazenamento são, ainda assim, superiores ao da média do mês de fevereiro nos últimos 20 anos, em Portugal continental.

albufeiras; água; barragens; seca; portugal
Situação de seca na Ribeira da Foz de Alge, em Arega, Figueiró dos Vinhos, em fevereiro de 2022. No ano de 2023, a situação encontra-se melhor neste território, mas em algumas regiões a situação permanece crítica.

O início de mês de março de 2023 regista uma diminuição do volume armazenado em 9 bacias hidrográficas e um aumento em 3, segundo dados divulgados no Boletim de Armazenamento das Albufeiras em Portugal Continental do SNIRH (Sistema Nacional de Informação de Recursos Hidrográficos).

Relativamente às 59 albufeiras monitorizadas, 26 apresentaram disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total, enquanto 9 (15% das quais) detinham disponibilidades inferiores a 40% do volume total.

Durante o mês de fevereiro, os armazenamentos apresentaram-se superiores aos da média para o período entre 1990 e 2022, à exceção das bacias hidrográficas do Ave (64,7%), Mondego (66,5%), Sado (58,9%), Mira (36,8%), Barlavento (13,1%) e Arade (41,5%). No caso em concreto do Barlavento, os valores assumem-se mesmo como críticos perante a comparação com a média do mês de fevereiro dos últimos 20 anos (73,8%, o que significa menos 60,7%).

Última semana do mês de fevereiro com armazenamentos inferiores ao da semana anterior

No último relatório semanal, de 27 de fevereiro de 2023, verificou-se um aumento do volume de armazenamento em 4 bacias hidrográficas e a redução em 10. Destas, 52% apresentaram disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume armazenado. As bacias de Barlavento e Mira foram aquelas que registaram os valores mais baixos nesta semana, com 13,1% e 36,8% de volume total armazenado.

SNIRH; armazenamento de água; albufeiras; Portugal continental
Subsiste uma situação crítica de armazenamento de água no Barlavento Algarvio. Fonte: Adaptado do Relatório do SNIRH, de 27 de fevereiro 2023.

De uma forma global, o volume total armazenado cifra-se em 81%, -0,5% do que na semana entre 13 e 20 de fevereiro de 2023. Apesar do registo destes valores mensais, é de notar que a região Norte continua a ser aquela em que se verifica maior capacidade de produção hídrica.

Tal como afirmou há uma semana, Pimenta Machado, durante uma intervenção na Conferência Inaugural do “Ano OE 2023: Energia e Clima”, realizada em Braga, “a região Norte, é a região do país que mais contribui para a produção de energia renovável no país, com destaque em particular para a produção hídrica – é aqui que estão as grandes barragens”.

No ano de 2022, a bacia hidrográfica do rio Douro foi responsável por 50% da produção hídrica, seguindo-se depois o Cávado. Os números indiciam que esta continua a ser a albufeira com melhores resultados, mesmo no que concerne ao volume total de armazenamento de água com 89,5%, a 27 de fevereiro de 2023, segundo dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

O que podemos esperar nas próximas semanas?

Embora se venha a notar, em termos gerais, uma melhoria da situação das barragens e albufeiras em Portugal Continental, o Sul do país continua a sofrer uma situação crítica nas barragens, problema este que se poderá acentuar durante o verão.

Embora com algumas incertezas próprias dos modelos preditivos, os dados climáticos avançados pelo Ensemble ECMWF apontam para um mês de março com alguma precipitação, de norte a sul do país.

Embora tais valores pluviométricos sejam favoráveis ao aumento do volume armazenado de água nas nossas albufeiras, a situação a sul do país merece particular reflexão.

A situação perpetua-se e talvez seja de iniciar-se alguma análise/estudo sobre projetos que viabilizem, a longo prazo, a chegada de água às áreas do país onde a mesma escasseia, recorrendo, por exemplo, aos transvases.