Equipa luso-espanhola usa “algoritmo de risco” para identificar e prevenir a ansiedade

Investigadores estão a recrutar voluntários para uma abordagem clínica digital inédita que, a ser bem-sucedida, poderá contribuir para aliviar a sobrelotação dos serviços de saúde.

ilustrações representativas de depressão e ansiedade
As perturbações de ansiedade afetam quase um terço da população portuguesa.

A ansiedade é um dos principais problemas de saúde mental, afetando mais de 300 milhões de habitantes em todo o mundo. Em Portugal, são cerca de 2,8 milhões de pessoas, o que representa, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas, 32% da população portuguesa.

Esta é uma questão de saúde prioritária, portanto, que consome boa parte dos serviços médicos, frequentemente lotados e sem capacidade de resposta.

Diante deste diagnóstico, a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, em Portugal, e o Instituto de Investigação Biomédica de Málaga, em Espanha, lançaram o projeto luso-espanhol PrevANS.

O programa é uma tecnologia, assente num algoritmo de risco, que irá identificar e ajudar a prevenir perturbações de ansiedade entre os voluntários que queiram participar nesta investigação.

Investigadores procuram voluntários

Disponibilizado online, o projeto-piloto PrevANS tem como intuito recrutar mil participantes em risco de sofrer sintomas de ansiedade. Os interessados devem, como tal, consultar o website prevans.org.

ilustração para representar estados de depressão e ansiedade
O principal objetivo do piloto é prevenir a ansiedade, antes que venha a ter impacto no dia a dia.

Quem quiser participar terá de responder a um questionário para ser possível avaliar a percentagem de probabilidade de desenvolver perturbações de ansiedade no ano seguinte. Será ainda preciso passar por uma entrevista clínica conduzida online por psicólogos.

Os voluntários terão depois acesso a um plano personalizado de intervenção com informação e ferramentas para prevenir problemas de ansiedade. Além disso, serão fornecidas estratégias para reagir ao stress e lidar com medos e preocupações.

Acompanhamento por smartphone ou computador

O programa estará acessível no smartphone, no computador e no tablet, podendo ser consultado a qualquer hora, adaptando-se, assim, às rotinas de cada um.

O conteúdo é, igualmente, personalizado, com uma intervenção preventiva, tendo em conta a probabilidade de se vir a desenvolver sintomas de ansiedade num intervalo temporal de aproximadamente um ano.

Ilustração para representar estados de ansiedade e depressão
Os voluntários que participarem nesta investigação terão acesso a exercícios e estratégias de prevenção de sintomas de ansiedade personalizados e cientificamente comprovados.

O objetivo é, no fundo, prevenir um dos grandes problemas mentais do nosso tempo, antes mesmo que venha a ter impacto no dia a dia. Essa é, aliás, uma condição fundamental para antecipar o agravamento dos sinais e minimizar o recurso aos serviços de saúde que já se encontram lotados.

Abordagens personalizadas com exercícios e terapias

Numa primeira fase, os investigadores vão recrutar voluntários entre a população adulta portuguesa e espanhola. Os participantes vão estar organizados em dois grupos. O primeiro será integrado num programa preventivo que, baseado num algoritmo de risco, irá determinar a probabilidade de poder vir a sofrer de ansiedade no próximo ano.

A este grupo de intervenção será, depois, facultado o acesso a módulos de informação, exercícios ou, em casos mais graves, intervenção cognitivo-comportamental – terapia que procura mudar pensamentos, emoções ou comportamentos disfuncionais.

O segundo grupo irá apenas preencher alguns questionários e, assim que a investigação terminar, poderá ter acesso a todos os conteúdos e resultados do projeto.

Disseminar o modelo entre as unidades de saúde

Terminado este processo no primeiro trimestre do próximo ano, os investigadores da Universidade do Porto e da Universidade de Málaga esperam começar a analisar em março de 2027 os dados recolhidos para, em maio desse mesmo ano, apresentar as conclusões.

Os especialistas, no entanto, advertem que não estão a testar as estratégias incluídas nos módulos de intervenção. Essas abordagens já são cientificamente reconhecidas na prevenção de problemas de ansiedade.

O que a equipa luso-espanhola pretende é avaliar o algoritmo de risco. Provando-se a sua eficácia na identificação de casos de risco, os investigadores esperam que a metodologia possa ser amplamente usada por entidades de saúde públicas e privadas.

A intervenção digital é considerada pioneira, tendo sido desenvolvida por uma equipa multidisciplinar com especialistas em medicina familiar, psiquiatria, psicologia, estatística, epidemiologia, informática e design.

ilustração para representar estados de ansiedade e depressão
O programa pode ser acompanhado no smartphone, no computador e no tablet e ainda consultado a qualquer hora, adaptando-se, assim, às rotinas de cada um.

Além de investigadores da Faculdade de Psicologia de Ciências da Educação, da Universidade do Porto, e do Instituto de Investigação Biomédica de Málaga, o projeto também contou com o envolvimento de cientistas da Rede de Investigação em Cronicidade, Atenção, Atividades Preventivas e Promoção da Saúde, sedeada em Barcelona.

Referências da notícia

Projeto PrevAns (versão portuguesa)

Vítor Pinto. PrevANS: pode a tecnologia prevenir a ansiedade? Universidade do Porto

32,0% da população com sintomas de ansiedade generalizada em 2024 – Instituto Nacional de Estatística.