Como podem as mudanças climáticas influenciar o aumento dos preços?

Embora muitos investidores não estejam cientes das causas da inflação, procuramos aqui dar-lhe conta das principais causas da inflação associadas às mudanças climáticas e alertar para algumas estratégias que podem reduzir a ameaça que este fenómeno representa para os potenciais investidores.

Seca; inflação
Evidências da seca na Barragem de Montargil, em Portalegre (Portugal).

Os riscos climáticos e as mudanças climáticas globais são responsáveis pelas alterações dos preços das matérias-primas. Apesar de muitos investidores não estarem cientes das causas potenciais da inflação provocadas pelas mudanças climáticas, os riscos estão aí e a procura de soluções para minimizar esta ameaça são fulcrais.

Qual é a relação entre as mudanças climáticas e a inflação?

Os impactes causados no preço das matérias primas podem acarretar uma maior inflação, uma vez que as empresas repassam essa variação dos preços para os consumidores, com a consequente inflação dos custos. Apesar deste processo estar muitas vezes associado, por exemplo, à pressão que é exercida pelo mercado petrolífero, é factual que no futuro as alterações climáticas terão um peso significativo no aumento dos preços.

Aliás, o aumento dos gastos dos governos e a implementação de regulamentos cada vez mais rígidos no âmbito da descarbonização e transição energética fazem parte dos diversos esforços, a médio e longo prazo, para garantir a adaptação das economias globais. No entanto, tais alterações poderão estimular a inflação a aumentar mais tarde. Entre outras razões, os produtos livres de carbono têm preços muito mais altos do que aqueles que são produzidos com recurso a métodos tradicionais e, portanto, devem ser objeto de reflexão.

E a inflação ocorrerá a nível global?

A inflação apresenta também padrões geográficos distintos. É importante notar que esses efeitos podem variar de região para região e dependerão das condições climáticas específicas e das características económicas locais. De facto, um determinado setor pode sofrer inflação de preços em apenas determinadas regiões, onde os efeitos locais das mudanças climáticas tendem a ser mais agudizantes.

A título de exemplo, os custos de produtos derivantes diretamente do setor agrícola podem subir drasticamente em certas regiões, mas acarretar o decréscimo noutras.

As condições climático-meteorológicas extremas causam em alguns lugares a inflação ou interrompem mesmo o abastecimento. O clima extremo, como secas, inundações e temperaturas extremas, pode afetar a produção de culturas, levando a uma redução da oferta e aumento dos preços. Esse aumento nos preços dos alimentos acarretará, em última instância, a inflação geral mais alta.

Podemos identificar alguns sinais de alerta?

Existem certos parâmetros climáticos de referência para os quais devemos estar muito atentos. Alguns exemplos, em território nacional, são o índice PDSI (Palmer Drought Severity Index), o índice meteorológico de incêndio (FWI), informações disponíveis no Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), ou o índice de escassez por bacia hidrográfica, da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Estas evidências colocam-nos em estado de alerta quando os últimos 9 anos foram os mais quentes da história mundial e o ano de 2022 foi dos mais quentes e secos no contexto nacional, com repercussões no abastecimento das nossas barragens e na seca que caracteriza o nosso território. Aliás, muitas das produções em Portugal têm vindo a ser afetadas, ainda no início de 2023, contribuindo para a subida de alguns preços de produtos agrícolas.

Soluções de mitigação e adaptação

A capacidade de lidar com as mudanças climáticas e o seu impactes na inflação deve fazer parte das estratégias dos governos internacionais, de modo a evitar que as consequências advenham no futuro e que exista, desde já, a devida capacidade de preparação e antecipação.

Idealmente, estas soluções devem basear-se no uso da geografia para gerir os riscos e as oportunidades potenciais. Naturalmente, algumas das nossas conceções geográficas (nomeadamente, as culturas de produção) terão que ser objeto de reconsideração para diminuir os efeitos a médio e longo prazo.

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As estratégias específicas de mitigação e de adaptação podem envolver o investimento em diversas tecnologias e ferramentas de transição climática, nomeadamente assentes em construções verdes, na gestão da água e dos resíduos ou na utilização de energias renováveis. Efetivamente, a antecipação e o recurso a ferramentas para a preparação para a transição climática podem ajudar a proteger as economias da inflação.