Auto-aprovisionamento de cereais em Portugal está em 19%. Governo aprova estratégia para inverter défice agroalimentar
O Governo aprovou na última semana em Conselho de Ministros uma resolução que estabelece uma nova estratégia para o aumento da produção sustent��vel de cereais em Portugal. O objetivo é “dar continuidade ao aumento do auto-aprovisionamento dos cereais” no país.

O Governo aprovou na reunião do Conselho de Ministros da última semana uma nova estratégia para aumentar os níveis de auto-aprovisionamento de cereais em Portugal, que, neste momento, se situam nos 19%, muito abaixo das necessidades do país.
O objetivo, diz o Governo, é “simplificar os processos de licenciamento de infraestruturas hidráulicas, aumentar o rendimento dos produtores, dinamizar a produção de sementes certificadas e da genética nacional”.
Também é objetivo desta estratégia um alinhamento com a estratégia nacional “Água que Une”, promovendo um “aumento da capacidade de armazenamento de água e a melhoria da eficiência do uso dos recursos hídricos e energéticos”.
Nesse sentido, o Ministério tutelado por José Manuel Fernandes revela que “vão ser também implementados instrumentos de gestão de risco para promover a mitigação das alterações climáticas e para fomentar a agricultura de precisão”.
Gestão das infraestruturas de cereais
A aposta vai ser feita “também nas práticas de gestão e de proteção dos recursos naturais”, diz o Governo, nomeadamente da água, do solo e da biodiversidade, bem como na utilização de tecnologias digitais que permitem reduzir custos sem comprometer a sustentabilidade dos recursos.

Da estratégia para o aumento da produção sustentável de cereais em Portugal faz ainda parte o “reforço da competitividade e a promoção do conhecimento” acerca dos modelos de abastecimento, de gestão e das infraestruturas de cereais em Portugal.
Rede única nacional agrometeorológica
Por outro lado, será “igualmente reforçada a capacidade estrutural do setor”, por via da “criação de uma rede única nacional agrometeorológica para aconselhamento das dotações de rega”, avança o Governo, através do Ministério da Agricultura.
Será ainda feita a “promoção ativa da inovação e da transferência de tecnologia, o reforço das estruturas interprofissionais, a valorização da produção nacional, a estabilização do rendimento através de seguros e a monitorização dos stocks para aumentar a transparência de mercado”.

Foi, no entanto, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, quem apareceu na conferência de imprensa no final da reunião do Conselho de Ministros, na passada quinta-feira, 4 de dezembro, a revelar a aprovação da estratégia que visa aumentar a capacidade de aprovisionamento de cereais, com a designação “Estratégia + Cereais”.
Os cereais em Portugal equivalem a 3,5% da produção agrícola nacional. O milho em grão é o que tem o maior peso na produção de cereais (56%), seguido do trigo (19%) e do arroz (16%). O trigo fica-se pelos 5%.
O défice da balança comercial
Em 2024, Portugal registou um défice da balança comercial dos produtos agrícolas e agroalimentares no valor de 5,17 mil milhões de euros, de acordo com as Estatísticas Agrícolas desse ano divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
O Instituto Nacional de Estatística (INE) foi taxativo, dizendo que, “relativamente ao grau de auto-aprovisionamento, o país aumentou a dependência do exterior em cereais, leite e derivados e frutos, com os respetivos graus de auto-aprovisionamento a fixarem-se em 17,9%, 90,1% e 68,8%". Manteve, ainda assim, a autossuficiência em arroz e reforçou o aprovisionamento excedentário em vinho e azeite“.
Recuando no tempo, na campanha de 2020/2021, por exemplo, a produção de cereais de outono/inverno (trigo, aveia e cevada, por exemplo), foi das mais baixas dos últimos 35 anos em Portugal (apenas 189,2 mil toneladas).