Alpinistas capturam ruído estranho no topo de uma montanha

Dois alpinistas filmaram um ruído estranho no topo de uma montanha. O que a princípio pode parecer um som paranormal, na verdade, é um fenómeno meteorológico conhecido como Fogo de Santelmo.

Alpinistas capturam som estranho no topo de uma montanha
Alpinistas capturam ruído estranho no topo de uma montanha que, embora pareça paranormal, tem uma explicação científica. (Imagem: Reuters/divulgação)

Um vídeo tornou-se viral na internet recentemente, mostrando dois alpinistas no Alasca e um fenómeno estranhíssimo - um estranho ruído elétrico que estava a ser emitido pela mão de um deles. O que parece ser um som sobrenatural, na verdade, tem uma explicação científica e já é conhecido há centenas de anos.

De acordo com a divulgação, o som costuma estar associado a uma atividade elétrica intensa na atmosfera - geralmente uma tempestade, o que levou a dupla de alpinistas a iniciar uma descida para escapar do perigo. A explicação não está errada, mas há muito mais do que isso naquilo que chamamos de Fogo de Santelmo.

O Fogo de Santelmo foi assim batizado pelos marinheiros do mar Mediterrâneo, que acreditavam que o fenómeno era a visita de Santo Erasmo (ou Elmo), considerado o padroeiro dos marinheiros. O fenómeno era relatado como uma fraca chama azul que se formava no topo dos mastros dos navios. O seu aparecimento era considerado um bom presságio, pois ocorria nas últimas fases de uma violenta tempestade, quando a maior parte do vento e das ondas fortes já tinha terminado.

Agora estará a perguntar-se: o que uma chama azul tem a ver com o ruído? Ou, por que não vemos uma chama azul a sair das mãos do alpinista no vídeo? Acontece que o brilho é muito fraco e mal pode ser percebido durante o dia. Há registos em vídeo que ocorreram durante a noite, e mostram mais claramente o fenómeno luminoso. Confira:

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Trata-se, portanto, de um tipo de faísca elétrica contínua, similar ao que ocorre em globos de plasma decorativos ou letreiros néon. O fogo de Santelmo forma-se quando o solo abaixo de uma tempestade está eletricamente carregado e há alta voltagem no ar entre a nuvem e o solo - ou seja, um forte campo elétrico.

Essa voltagem separa as moléculas de ar e o gás começa a brilhar, formando o que chamamos de plasma. O resultado é uma fraca luminescência, que lembra uma chama azul e só é visível quando o ambiente está escuro.

E quanto ao ruído capturado pelos alpinistas? Assim como relâmpagos interagem com o ar em seu redor e geram trovões estrondosos, o Fogo de Santelmo também gera um ruído ao perturbar o ar em seu redor, embora muito mais fraco e contínuo.

O fenómeno como um todo tem cativado pessoas pessoas há séculos. Até William Shakespeare o incluiu numa das suas obras, não surpreendentemente intitulada “A Tempestade”. Lê-se, no Ato I, Cena 2 da peça:

Eu embarquei no navio dos Reis; ora na proa, na coberta, no convés, ou em cada camarote, eu acendi o espanto; por vezes eu dividiria e queimaria em muitos lugares; no mastro superior, no gurupés, nas vergas, eu queimaria distintivamente; para em seguida, numa única chama concentrar.

Esta influência na cultura popular persiste há centenas de anos e ocorre principalmente porque o Fogo de Santelmo é extremamente raro. Ainda hoje, há pouquíssimos registos visuais do fenómeno, mesmo com a revolução dos smartphones e câmaras portáteis.

Mesmo assim - ou talvez exatamente por isso - o fenómeno continua a cativar pessoas por todo o mundo, com a sua beleza exótica, raridade e toque de “fenómeno paranormal”. A verdade é que a beleza da natureza nunca vai deixar de nos impressionar.