Alerta de seca: Itália sofre com estiagem, canais de Veneza ficam sem água

Não só pelo turismo, mas os canais de Veneza que servem como ruas estão a secar devido à estiagem que a Itália enfrenta e acendem um alerta nos italianos que geralmente esperavam por notícias de inundações nesta época do ano.

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A navegação continua nas vias navegáveis principais e mais amplas, incluindo os canais Grand e Giudecca. Foto: MARCO SABADIN / AFP

Quem nunca se encantou e teve vontade de navegar pelas estreitas ruas apaixonadas de Veneza? Pois é, mas estes passeios de momento estão comprometidos devido à estiagem em Itália. Os canais que servem como ruas e transportam diariamente tantos italianos e turistas estão secos devido à falta de chuva.

A preocupação não é só pelo turismo diretamente afetado, mas a vida quotidiana dos italianos fica mais difícil, e não estamos apenas a falar dos canais secos, mas do problema maior por detrás disso: a estiagem que a Itália enfrenta acende um alerta.

As famosas e tradicionais embarcações conhecidas como gôndolas em Itália não conseguem navegar pelos canais de Veneza devido à maré baixa.

Aliás, os italianos, que geralmente estavam até mesmo habituados e aguardavam notícias corriqueiras de inundações durante esta época do ano, agora estão surpreendidos com a falta da chuva por causa de semanas de inverno consecutivas com o predomínio do tempo seco, o que gera grande preocupação e o medo de uma forte estiagem como aconteceu no verão passado.

Como os canais secaram?

A Itália está a passar pelo período de inverno, que está seco há semanas consecutivas, mas além disso, outros fatores estão a influenciar esta diminuição do nível dos canais de Veneza, como por exemplo a formação de uma área de alta pressão atmosférica que inibe a formação de instabilidade meteorológica, a Lua em fase cheia e a situação das correntes marítimas.

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Barcos-ambulância chegaram a ancorar mais longe do destino. Foto: MARCO SABADIN / AFP

Alguns dos mais pequenos canais de Veneza ganharam destaque ultimamente, mas não por causa da sua beleza e particularidades locais. Isso sim, por estarem cada vez mais secos, o que gerou grande frustração nos turistas e preocupação nas tripulações dos barcos.

Aliás, vale a pena recordar que estes canais são de grande importância para a vida quotidiana em Itália, não é apenas turismo. Sabia que existem em Veneza barcos-ambulância? Pois é, com os canais vazios, as equipas médicas precisam de ancorar bem antes dos seus destinos, o que as obriga a carregar as macas com os seus pacientes por um longo caminho, o que traz riscos ao atendimento e à vida.

Jane Da Mosto é cientista ambiental e analista de desenvolvimento sustentável do grupo de defesa ambiental designado de We Are Here Venice e está a acompanhar a situação do canais de perto. Explica que no meio do inverno existe esta combinação entre a alta pressão atmosférica e o ciclo lunar, responsável por manter o nível de água extremamente baixo.

Problema fora de Veneza

Não são apenas os canais mais estreitos de Veneza que estão a secar, mas o problema é maior em Itália, inclusive, algo que tem sido agravado pelo escasso derretimento da neve alpina, que tem gerado a diminuição de lagos e rios no norte italiano desde as últimas semanas.

O rio mais longo da Itália conhecido como Rio Pó, tem cerca de 61% menos água do que o normal durante esta época do ano.

A Agência Reuters foi informada pelo grupo ambiental Legambiente que os rios e os lagos, principalmente no norte da Itália, estão a sofrer com a estiagem provocada pela falta de chuva. A situação mais crítica está no norte do país, mas outras áreas também enfrentam o problema.

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Seca no rio Pó: uma das embarcações encontradas em Gualtieri, na Itália. Imagem: Reprodução/Instagram Alessio Bonin

São várias áreas e setores económicos diferentes afetados em Itália, não só os canais de Veneza mais secos ganharam destaque, e aliás o problema não é novo. No mês de julho do ano passado, o governo italiano declarou estado de emergência para as áreas situadas em redor do Rio Pó, que inclusive, corresponde a um terço da produção agrícola de Itália que sofreu a sua pior seca em 70 anos.