Agência Espacial Europeia promove simulacro de colisão de asteroide

Depois de quase uma década a reunirem-se presencialmente, os especialistas mundiais em asteroides vão juntar-se de forma virtual e simular o impacto iminente de um asteroide na Terra. Fique a saber tudo sobre este cenário pouco provável, mas real, connosco!

Asteroide.
Asteroide, no seu caminho descendente, ao encontro da Terra. Um fenómeno que pode significar extinção em massa.

A 7.ª Conferência de Defesa Planetária (Planetary Defense Conference) é um evento onde se reúnem especialistas, tanto europeus como norte americanos, com o objetivo de preparar a resposta a um cenário fictício, mas plausível, de um impacto, a curto prazo, de um asteroide na superfície terrestre. Este evento vai ser organizado pelo Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos Espaciais (UNOOSA, na sigla em inglês) em colaboração com a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), com a Academia Internacional de Aeronáutica (IAA, na sigla em inglês), entre outras.

Originalmente agendado para Viena, na Áustria, este evento que decorre desde a passada segunda-feira, 26 de abril, decorreu inteiramente em formato online até hoje, 30 de abril devido às restrições impostas pela pandemia da COVID-19. Esta edição fica ainda marcada por ser a segunda edição em que é possível acompanhar o evento em direto, nas redes sociais.

É comummente aceite que existe a possibilidade de um impacto de um grande asteroide na Terra, no futuro, por mais improvável que possa parecer.

Desta forma, vai ser possível acompanhar todas as incidências deste simulacro, em tempo real, nas redes sociais da Agência Espacial Europeia. Com particular incidência através da rede social Twitter, a página ESA Operations (@esaoperations) vai fornecer todas as atualizações sobre os estudos de defesa planetária, apresentando ações concretas que podem ser desenvolvidas por cientistas, agências espaciais e entidades de proteção civil.

Nesta conferência vai ser possível contar com apresentações de especialistas, sessões e mesas redondas que vão incidir no referido simulacro e naquilo que pode ser feito para prevenir este tipo de calamidades. O cenário hipotético que vai ser apresentado foi desenvolvido pelo Centro de Estudos de Objetos Perto da Terra (CNEOS, na sigla em inglês) do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA.

O que fazer com a probabilidade de colisão?

É comummente aceite que existe a possibilidade de um impacto de um grande asteroide na Terra, no futuro, por mais improvável que possa parecer. Nos últimos 110 anos, registaram-se duas ocasiões em que dois objetos com dezenas de metros de diâmetro dizimaram vastas áreas na Rússia. Em 2013, um destes objetos provocou danos em edifícios e feridos entre a população de Chelyabinsk.

Através da análise de dados estatísticos é possível perceber que mais de 95% dos asteroides com um diâmetro superior a 1 km já foram identificados, no entanto, menos de 30% dos asteroides com diâmetro superior a 100 metros foram identificados. Estima-se que sejam mais de 40 000.

Felizmente, os especialistas acreditam que as probabilidades da queda de um asteroide com dimensão para causar um evento de extinção em massa, são extremamente reduzidas num futuro próximo. É, contudo, essencial prepararmo-nos para eventos da dimensão do que aconteceu em Chelyabinsk, que tem potencial para causar danos extensos e vítimas mortais.

É com esta base que a conferência vai trabalhar ao longo da semana, utilizando metodologias como o role play (jogo de papéis), em que os participantes assumem determinados papéis como o “governo nacional”, a “agência espacial”, o “astrónomo” e o “gabinete de proteção civil”, de forma a analisarem a situação hipotética com base nas atualizações diárias.

Em cada dia, o grupo de trabalho recebe novas informações – no primeiro dia (segunda-feira) fez-se uma contextualização, no segundo dia (terça-feira) foi o dia em que hipoteticamente se descobriu e se caracterizou o asteroide (nomeado 2021 PDC e que irá colidir com a Terra no dia 20 de outubro de 2021). O terceiro dia (quarta-feira) foi subordinado ao planeamento de uma missão que visava intercetar o asteroide. O dia de ontem foi subordinado aos efeitos de um possível impacto e de que forma se pode gerir o desastre decorrente, sendo que no último dia, (hoje) será abordado o tema das formas de decisão e de ação e da forma de comunicar com a população.

Deflexão: uma forma (ainda) teórica de lidar com a realidade

Nos próximos dois anos, alguns dos intervenientes desta conferência vão executar uma série de missões no espaço que visam avaliar o potencial da técnica de deflexão. Esta técnica consiste em fazer explodir (um impacto controlado de alta velocidade) um dos detritos mais pequenos que acompanham o asteroide de maiores dimensões e verificar se a sua trajetória se alterou.

A NASA vai, ainda este ano, coordenar a explosão numa rocha chamada Dimorphos, que acompanha o asteroide Didymos, com o objetivo de verificar se esta técnica funciona. Esta missão designa-se Double Asteroid Redirection Test (DART). Depois, já em 2024, a nave espacial Hera da ESA vai também a Didymos para medir a cratera resultante da explosão e analisar as propriedades, composição e estrutura do referido asteroide.

Os resultados científicos obtidos nestas duas missões, mesmo sendo preliminares, vão representar uma esperança para a humanidade, de que a técnica de deflexão de um asteroide seja uma técnica de defesa planetária devidamente comprovada.