Hoje é a Candelária, nossa "marmota" e esta é a previsão para Portugal

Hoje, às sete horas da manhã (EUA), por volta do meio-dia em Portugal, a marmota Phil interromperá a sua hibernação para dar o seu veredicto meteorológico sobre o resto do inverno. Não o fará deliberadamente, tendo de se render aos caprichos dos membros da sociedade Punxsutawney Groundhog Club (Pensilvânia). De acordo com a tradição, a cada dia 2 de fevereiro, se a marmota Phil vir a sua sombra e regressar para o seu buraco, prevê-se mais seis semanas de inverno. Se Phil não vir a sua sombra, o início da primavera está à porta.

O tempo de hoje nesta pequena localidade da Pensilvânia estará inversamente relacionado com o que poderá acontecer na segunda metade do inverno: estando o céu nublado, ou até mesmo com chuva, este é um bom sinal de que o inverno estará prestes a acabar.

Da mesma maneira que nos Estados Unidos recorrem à tradição da marmota para perceber se o inverno ainda irá durar; em várias tradições populares europeias, em particular a ibérica, está profundamente enraizada a ligação da meteorologia à Festa da Nossa Senhora das Candeias. Esta data celebra-se anualmente a 2 de fevereiro, no dia da Apresentação do Senhor ao Templo, quarenta dias após o seu nascimento.

Razões históricas na origem da Senhora das Candeias

A Nossa Senhora das Candeias é a santa padroeira das Ilhas Canárias (Espanha), sob o nome de Nossa Senhora da Candelária. Terá aparecido em 1400 numa praia na ilha de Tenerife. Em Portugal, onde se realizam muitas procissões em sua honra, a santa é o orago de dezenas de freguesias com o nome de Nossa Senhora da Luz, Nossa Senhora das Candeias ou Nossa Senhora da Purificação.

A santa começou a ser especialmente venerada em Portugal no século XV. Quando se descobriu uma imagem da Mãe de Deus entre uma estranha luz, em Carnide, em Lisboa, um convento foi ali fundado e uma igreja dedicada à santa. Com a expansão marítima de Portugal, o culto da santa espalhou-se pelo mundo, com especial relevo no Brasil.

Qual é, afinal, a relação da Senhora das Candeias com o tempo?

Uma das crenças populares mais famosa relaciona-se precisamente com o estado do tempo. De acordo com o provérbio, "se a Nossa Senhora das Candeias estiver a rir, está o Inverno para vir; se estiver a chorar, está o Inverno a passar". Ou seja, se o tempo estiver de sol no Dia da Senhora das Candeias, o inverno está a chegar, mas se chover nesse dia, o inverno está a terminar.

Então, se para o inverno de 2022 tivermos por base a crença popular da Candelária (ou Nossa Senhora das Candeias) e a sua alegada conexão com a previsão para o que resta do inverno, o prognóstico seria ótimo para o país que está a atravessar uma das mais graves secas das últimas décadas, dado que quando está sol (assim está o tempo em Portugal continental nesta quarta-feira (2)), o resto do inverno seria chuvoso e frio – período de cerca de 6 semanas.

Contudo, tendo em conta as projeções científicas (aquelas em que realmente nos devemos basear – modelos numéricos de previsão, mapas meteorológicos), o cenário meteorológico previsto para Portugal continental e até mesmo boa parte da Europa, é extremamente desolador, agravando-se ainda mais o já de si terrível “estado das coisas” atual. O que revelam afinal os mapas de previsão em relação ao que é provável acontecer até ao final do inverno?

Previsão do tempo para as próximas semanas em Portugal

De acordo com mapas do ECMWF, o tempo em Portugal continental ao longo das próximas semanas continuará a ser incrivelmente monótono: panorama estável, seco e soalheiro, com praticamente nenhuma gota de água em perspetiva, o que significa a total ausência de temporais ou depressões de grande impacto.

Ora, este cenário é desolador e podemos comprová-lo observando o mapa (acima no texto) do geopotencial da semana de 14 a 21 de fevereiro (que já segue a tendência) do das semanas anteriores. O anticiclone continuará “rei e senhor do estado do tempo”, tornando-se um autêntico escudo anti-tempestades.

A agravar este cenário, as temperaturas deverão estar mais elevadas do que o normal para a época, contribuindo para um cenário de floração precoce, potenciais incêndios florestais em pleno mês de fevereiro e a degradação de solos que podem, potencialmente, arruinar uma boa parte das culturas agrícolas. Tendo isto em conta, e com as barragens já a atingir níveis deveras preocupantes do volume de água armazenado, o Governo Português – via Ministério do Ambiente – restringiu o uso de barragens para eletricidade e rega.

A curto e médio prazo, os mapas do tempo não auguram nada de positivo (pouca ou nenhuma chuva) e isso pode ser devastador para a produção elétrica, setor agrícola e até mesmo afetar a sociedade civil (setor da água, entre outros; e potencial encarecimento dos produtos de consumo doméstico).