Frio polar poderá aproximar-se: jato enfraquece, bloqueio ganha força e primeiros sinais surgem já até quarta-feira

A primeira metade da semana marca uma mudança gradual nos padrões atmosféricos em Portugal Continental. O enfraquecimento da corrente de jato e a possível instalação de um bloqueio em latitudes altas abrem a porta a ar mais frio. Entre segunda e quarta-feira alternam-se chuva, abertas, frio e vento.
A atmosfera entra num período de transição relevante na primeira metade da semana, num contexto marcado pelo enfraquecimento da corrente de jato e pela tendência clara para a formação de um bloqueio em latitudes mais altas da Europa.
Estes fatores, em conjunto, têm potencial para alterar o padrão meteorológico dominante em Portugal Continental, reduzindo a influência direta do Atlântico e aumentando a probabilidade de entrada de massas de ar mais frio.
Embora os sinais de um eventual episódio de frio polar surjam sobretudo para além de quarta-feira, os primeiros indicadores começam a manifestar-se já entre 15 e 17 de dezembro.
Jato enfraquecido, bloqueio a consolidar-se e primeiros sinais de ar mais frio
A corrente de jato, que nos últimos meses tem mantido forte circulação zonal e sucessivas depressões a atravessar o Atlântico, começa agora a perder intensidade.
Este enfraquecimento foi antecipado por vários modelos e está associado à perturbação mais recente no vórtice polar estratosférico, bem como à fase atual da Oscilação de Madden–Julian (MJO), que favorece padrões atmosféricos mais ondulados.
Na prática, isto significa menor domínio do fluxo oeste–este e maior facilidade para que o anticiclone se estenda para norte, criando condições para um bloqueio atmosférico.
Para Portugal Continental, a consequência imediata não é ainda o “frio extremo”, mas sim uma semana muito variável, com alternância entre precipitação, períodos de sol, vento, descida das temperaturas e maior incerteza a partir de quarta-feira. É neste contexto que a semana se inicia.
Uma nova frente fria está a caminho do continente
A segunda-feira (15 de dezembro) traz uma frente fria que atravessa o território de norte para sul, com precipitação mais frequente no litoral Norte e Centro e possibilidade de chuva pontual no interior ao longo da tarde.
As temperaturas descem de forma generalizada. Em concreto, as máximas ficam entre os 6 ºC na Guarda e os 16 ºC em Lisboa, e o frio torna-se mais evidente nas terras altas. O vento aumenta no litoral, podendo soprar moderado a forte por momentos, e a neve reaparece nos pontos mais elevados da Serra da Estrela.

Trata-se de um dia tipicamente invernal, marcado por céu muito nublado, sensação térmica baixa e mar algo agitado.
A terça-feira (16 de dezembro) surge como o dia mais incerto do período. Apesar de algumas abertas previstas, persistem núcleos de instabilidade capazes de gerar aguaceiros dispersos, granizo e até trovoadas isoladas, sobretudo no Centro e Sul do país.
Esta instabilidade dependerá do posicionamento de uma depressão próxima da Península, que poderá produzir fenómenos localizados de maior intensidade.
Quarta-feira traz maior estabilidade, mas revela o caminho para ar mais frio
A quarta-feira (17) deverá ser o dia mais estável da semana, embora ainda com algum resíduo de nebulosidade. A influência anticiclónica reforça-se temporariamente, permitindo períodos prolongados de sol e uma ligeira recuperação das temperaturas máximas, sobretudo no litoral.
No entanto, é durante a madrugada e ao amanhecer que o impacte da mudança atmosférica se evidencia. Com o céu mais aberto e o vento mais fraco, o arrefecimento noturno intensifica-se, favorecendo geadas em áreas do interior Norte e Centro. Este reforço do frio matinal é o primeiro sinal concreto de que uma massa de ar mais continental poderá aproximar-se nos dias seguintes.

A estabilidade de quarta-feira é, no entanto, frágil. Os modelos usados pela nossa equipa da Meteored começam a indicar divergências significativas a partir do final do dia e, sobretudo, para quinta e sexta-feira.
Com o anticiclone a deslocar-se para norte e o jato mais lento, cresce a probabilidade de entrada de ar frio de leste, situação que poderá traduzir-se numa descida mais acentuada das temperaturas e eventual formação de geadas mais generalizadas.
Se o fluxo se mantiver seco, o frio intensifica-se. No entanto, se surgir humidade associada, a neve poderá tornar-se tema para cotas intermédias. Para já, estes cenários permanecem no domínio das possibilidades, mas são cada vez mais suportados por tendências de ensemble.
Em resumo, a semana até quarta-feira é marcada por forte variabilidade. Após um início chuvoso e frio, uma terça-feira instável e uma quarta mais calma, pode esperar-se a transição para um padrão potencialmente mais frio. A probabilidade de intrusão de ar polar aumenta para a segunda metade da semana, embora tal ainda exija confirmação, e o acompanhamento diário das nossas previsões seja fundamental.