Tempo húmido e São João: apanhar orvalhadas e saltar fogueiras!

As orvalhadas e a fecundidade... Segundo as lendas, uma mulher que se rebole de madrugada sobre a erva húmida dos campos (“...para tomar orvalhadas / nos campos de Cedofeita”) fica apta a conceber. Antigamente, as orvalhadas entendiam-se como o suor ou a saliva dos deuses da fertilidade...

"O S. João é ver o nascer do sol, apanhar as orvalhadas e saltar às fogueiras”, ações ligadas aos cultos da natureza e da fertilidade.

As verdadeiras origens da festa estão intimamente ligadas ao culto do sol, da natureza, do fogo e da fecundidade. Segundo Hélder Pacheco, as referências às festas de S. João começaram a sentir-se nitidamente no século XIX. “A cidade (do Porto) era, então, mais pequena”, recorda, explicando que, na altura, o S. João consistia em três festas: uma no Bonfim, uma na Lapa e outra em Cedofeita.

Uma outra velha tradição assegura que os namoros arranjados pelo S. João são muito mais duradouros do que os que se formam pelo Carnaval, “que não vêem chegar o Natal".

São João segundo os populares

Para eles, “o S. João é ver o nascer do sol, apanhar as orvalhadas e saltar às fogueiras”, ações ligadas aos cultos da natureza e da fertilidade. De salientar ainda a forte presença do culto das plantas, que atribuiu uma simbologia a cada uma delas.

“O alho porro transformou-se num protetor e o cravo, por exemplo, era oferecido pelos homens às mulheres, tendo um significado erótico”, conta Hélder Pacheco.

A festa de São João foi construída sobre os resquícios da festa pagã de celebração do solstício de Verão – símbolo de abundância das colheitas e da fertilidade - , estando inevitavelmente ligada ao culto do sol e do fogo, que aparece agora sob a forma de lançamento de balões de ar quente, fogo de artifício (ah! quão apaixonadas as discussões sobre qual o melhor fogo, se o do Porto, se o de Gaia…), e até fogueiras em locais públicos.

A água existe, desde há centenas de anos, não só como elemento de pureza mas também como símbolo de fertilidade. Assim, durante a noite de São João era costume que as jovens senhoras rebolassem nas orvalhadas em Cedofeita - área bastante campestre para aumentarem a sua fertilidade. Há três elementos cruciais no São João: a água, o fogo e as ervas aromáticas, sendo as mais importantes o manjericão, o alho porro e a erva-cidreira. O alho porro, em particular, simboliza a boa sorte.

Cientificamente, o que é orvalho?

O orvalho é o resultado da condensação de vapores de água presentes no ar, em forma de gotículas, que quando entram em contato com superfícies nas quais a temperatura está mais baixa ("abaixo do ponto de orvalho"). Desta forma, aquelas gotas de água no solo e objetos perto deste, nas gramas e plantas em geral, vistas pela manhã, presentes mesmo quando não choveu à noite, são uma deposição, e não uma precipitação, tal como a composição sugere.

O orvalho ocorre como consequência do arrefecimento noturno, o que provoca a saturação do ar e forma pequenas gotas de água. Foto por: PhotoMIX Ltd. de Pexels

Durante todo o dia os objetos (ou seres) perdem calor para a atmosfera, mas este calor regressa para os objetos ou seres, através da radiação solar. À noite, isso continua a acontecer embora com muito menor frequência, o que faz com que os objetos percam mais calor do que o que ganham, resfriando-se. Isto ocorre após noites de céu limpo e calmo, quando as superfícies dos objetos ficam mais frias do que o ar em redor, resfriando-o também e deixando-o saturado.

Assim, se o ar ficar mais frio que o ponto de congelamento, ocorre o que chamamos de geada, mas, se ele ficar acima do ponto de congelamento, o vapor de água presente ao redor do objeto condensa-se formando o orvalho.