Que ondas de rádio afetam o sentido magnético das aves migratórias?

As ondas de rádio emitidas pelo rádio e televisão podem interferir com a bússola magnética utilizada pelas aves, mas as utilizadas pelas comunicações móveis não. Saiba mais aqui!

aves migratórias
Há frequências que interferem na orientação das aves migratórias, mas nem todas.

Como é que milhares de milhões de pequenas aves canoras migratórias que voam milhares de quilómetros todos os anos entre os seus locais de reprodução e de invernada encontram o seu caminho? A resposta é simples, utilizam sinais celestes para se orientarem, tal como os marinheiros de antigamente utilizavam o sol e as estrelas para se guiarem.

Para além disso, ao contrário dos humanos, também têm uma "bússola magnética" nos olhos que deteta o campo magnético da Terra e o utiliza para determinar a sua posição e direção.

De acordo com uma nova descoberta efetuada por investigadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e da Universidade de Oldenberg, na Alemanha, embora as ondas de rádio emitidas pela radiodifusão sonora e televisiva e pela rádio possam interferir com esta bússola, as utilizadas nas redes de comunicações móveis não o fazem, porque as frequências são demasiado elevadas para afetar o seu sentido de orientação.

Como é que os humanos interferem com a bússola magnética das aves?

O estudo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) com o título "Upper bound for broadband radiofrequency field disruption of magnetic compass orientation in night-migratory songbirds". A equipa de investigação foi dirigida pelo Prof. Henrik Mouritsen, das ciências neurosensoriais da Alemanha, e pelo Prof. Peter Hore, da química do Reino Unido.

Esta descoberta reforça a teoria dos investigadores de que o sentido da bússola magnética nestas aves se baseia num efeito quântico-mecânico conhecido como mecanismo de par radical nos seus olhos. Para este estudo, a equipa combinou experiências comportamentais com cálculos quântico-mecânicos complexos.

Mouritsen, Hore e colegas já tinham provado, há nove anos, que o electrosmog - ruído eletromagnético produzido pelo homem - na banda de ondas de rádio AM, como o gerado por aparelhos elétricos domésticos, prejudica a capacidade das aves migratórias de utilizarem o campo magnético da Terra para se orientarem, o que é conhecido por magnetoreceção.

Os investigadores sugeriram que este fraco electrosmog, que é inofensivo para os seres humanos, afeta os complexos processos físicos quânticos em certas células das retinas das aves migratórias que lhes permitem navegar. Contudo, não ficou claro se o electrosmog também afeta as aves que voam livremente, como as aves migratórias de longa distância, cujo número tem vindo a diminuir desde há algum tempo por razões desconhecidas.

Mecanismo quântico-mecânico

A equipa analisou mais de perto a ligação entre o mecanismo quântico-mecânico que, segundo suspeitam está na base do sentido magnético das aves, focando-se assim na perturbação deste mecanismo pelas ondas de rádio.

O foco do interesse da equipa foi a frequência de corte acima da qual a navegação das aves migratórias não é afetada, uma vez que a determinação deste valor permite tirar conclusões sobre as propriedades do sensor magnético real nas aves. A teoria era de que este sensor é uma proteína sensível à luz chamada criptocromo-4 que tem as propriedades magnéticas necessárias.

A previsão teórica inicial dos cientistas era de que a frequência de corte se situaria algures entre 120 e 220 megahertz na gama de frequências muito altas (VHF), pelo que a equipa realizou experiências comportamentais com calotes negras da Eurásia utilizando diferentes bandas de frequência dentro desta gama.

Frequência de corte

Num estudo publicado em 2022, os investigadores já tinham demonstrado que as ondas de rádio com uma frequência entre 75 e 85 megahertz interferem com o sentido da bússola magnética destas pequenas aves canoras.

Estas experiências mostraram que a sua bússola magnética deixava de funcionar quando eram expostos a estas frequências de rádio, mas funcionava corretamente sem exposição.

Os investigadores também efetuaram cálculos de modelos nos quais simularam os processos quântico-mecânicos no interior da proteína criptocromo. Com base nestes cálculos, conseguiram reduzir ainda mais a frequência de corte, para 116 megahertz.

A melhor compreensão da magnetoreceção é importante para melhorar a proteção das aves migratórias, afirmam os autores do estudo.

A magnetoreceção pode também fornecer informações sobre questões fundamentais como, por exemplo, que tipo de radiação eletromagnética afasta as aves da sua rota e deve ser evitada em zonas como as reservas naturais onde as aves migratórias param para descansar.