Entre o calor e a presença humana: o futuro incerto de um mamífero de montanha na Califórnia
Alterações climáticas causam declínio do esquilo de Belding, mas áreas modificadas por humanos funcionam como refúgios vitais contra o aquecimento. Saiba mais aqui!

Este estudo apresenta uma análise profunda sobre como as alterações climáticas estão a transformar a biodiversidade de montanha, focando-se no esquilo-terrestre de Belding (Urocitellus beldingi). Através da comparação de registos históricos do início do século XX com vistorias contemporâneas, os investigadores revelam um cenário de declínio acentuado desta espécie no limite sul e nas altitudes mais baixas da sua área de distribuição na Califórnia.
O declínio silencioso nos prados de montanha
A investigação começou com o levantamento de 74 locais onde a espécie tinha sido documentada entre 1902 e 1966.
O dado mais alarmante é a ausência total de novas colonizações; a espécie não está a conseguir mudar-se para novas áreas, mas está a desaparecer das antigas. Sem a influência de áreas modificadas por humanos, a espécie recuou, em média, 255 metros para altitudes superiores, procurando climas mais frios que já não encontra nos seus habitats originais.
O impacto do clima: calor e humidade
O estudo identifica dois grandes vilões climáticos: o aumento da temperatura de inverno e as alterações na precipitação. Descobriu-se que locais com temperaturas médias de inverno superiores a -4,4°C são extremamente vulneráveis à extinção da espécie.

Este fenómeno deve-se, em grande parte, à perda da cobertura de neve. Para um animal hibernante como este esquilo, a neve funciona como um cobertor térmico essencial.
Além disso, o aumento da chuva em vez de neve pode inundar as tocas e causar stress metabólico severo, já que manter o corpo seco em ambientes frios exige um esforço energético que estes pequenos mamíferos muitas vezes não conseguem suportar.
Refúgios antropogénicos: um equilíbrio inesperado
Uma das conclusões mais intrigantes da investigação é o papel das atividades humanas. Contrariando a ideia de que a intervenção humana é sempre prejudicial, o estudo descobriu que locais modificados — como parques de campismo, jardins e campos agrícolas — funcionaram como "refúgios".

Nestas áreas, a disponibilidade artificial de comida e água permitiu que o esquilo de Belding persistisse e até prosperasse, mesmo em altitudes mais baixas onde o clima já se tornou hostil. Estes animais apresentaram maior densidade populacional nestes locais do que nos prados naturais, sugerindo que o apoio humano direto ou indireto pode amortecer temporariamente o impacto do aquecimento global.
Um futuro de incerteza
As projeções para o futuro são sombrias. Utilizando modelos matemáticos para antecipar o cenário em 2080, os investigadores preveem que a espécie poderá perder entre 72% e 99% do seu habitat adequado na Califórnia. Sendo o esquilo de Belding uma peça fundamental na cadeia alimentar, servindo de presa para aves de rapina e carnívoros, o seu desaparecimento poderá desencadear um efeito dominó que comprometerá a saúde de todo o ecossistema montano.
Em suma, o estudo sublinha que a sobrevivência das espécies de montanha depende não só da sua capacidade de subir em altitude, mas também da existência de refúgios — naturais ou artificiais — que as protejam dos extremos de um clima em rápida mudança.
Referência da notícia:
Toni Lyn Morelli, Adam B. Smith, Christina R. Kastely, Ilaria Mastroserio, Craig Moritz, Steven R. Beissinger; Anthropogenic refugia ameliorate the severe climate-related decline of a montane mammal along its trailing edge. Proc Biol Sci 1 October 2012; 279 (1745): 4279–4286. https://doi.org/10.1098/rspb.2012.1301