China inicia perfuração de um poço de 10 mil metros na superfície da Terra

Projeto ambicioso chinês visa perfurar um poço de 10 mil metros na crosta terrestre, na região de Xinjiang, o maior já feito no país. Cientistas pretendem estudar a formação geológica da Terra, bem como erupções vulcânicas e terramotos.

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Projeto de perfuração do poço de 10 mil metros de profundidade para exploração científica na Região Autónoma de Xinjiang, no noroeste da China. Crédito: Xinhua/Li Xiang.

A China começou a perfurar na terça-feira, 30 de maio, um poço de dez mil metros na superfície terrestre, na Bacia de Tarim, que fica na região de Xinjiang, uma área rica em petróleo, segundo a agência de notícias Xinhua. O projeto foi lançado em 2021 pelo presidente Xi Jinping, e será o maior buraco perfurado do país.

Os cientistas chineses pretendem com isto fazer uma exploração profunda, chegando a áreas que ainda não foram estudadas e recolhendo dados do interior da Terra. Por isso, eles podem chegar até 11.100 metros de profundidade, o que levou a que a obra, nas redes sociais, fosse chamada de “buraco para o inferno”.

O poço mais profundo jamais perfurado na Terra é o de Kola, na Rússia, com 12,2 mil metros de profundidade em 1989, feito pelos soviéticos. O objetivo era obter amostras reais do manto terrestre.

Estão a ser utilizadas técnicas e equipamentos sofisticados para o trabalho, como brocas para a perfuração da crosta e equipamentos pesadíssimos, com cerca de 2 mil toneladas, para enfrentar o ambiente hostil do local e as condições subterrâneas adversas. A perfuração deve durar cerca de 1 ano e 3 meses, e está a ser liderada pela China National Petroleum Corporation.

O que se pretende com este empreendimento?

Os investigadores chineses visam conseguir mais informações sobre a formação geológica do planeta, erupções vulcânicas, terramotos, recursos minerais e energéticos. Ou seja, resumindo: eles querem saber os riscos de desastres ambientais, a evolução das rochas e alterações climáticas.

O presidente fez um discurso aos cientistas do país, apelando a um maior progresso na região e destacando a necessidade de ampliar o conhecimento científico sobre a Terra. Estima-se que seja possível atingir vestígios do período Cretáceo, com rochas de aproximadamente 145 milhões de anos.

O vídeo abaixo mostra com mais detalhes como está a ser feita a perfuração, veja:

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O projeto de perfuração também pode oferecer aos investigadores uma visão da geologia única da Bacia do Tarim. A bacia recolhe água drenada de três cadeias de montanhas e acredita-se que se tenha formado durante o fecho do Oceano Paleo-Asiático há mais de 200 milhões de anos.

Quais são os pontos negativos deste projeto?

A perfuração apresenta alguns riscos ambientais, como a contaminação de aquíferos e recursos hídricos subterrâneos devido a possíveis derrames de substâncias tóxicas durante o processo de abertura do poço, e danos nos ecossistemas locais. Além disso, a exploração de petróleo na região pode aumentar a emissão de gases com efeito de estufa (GEE).

“A dificuldade da construção deste projeto de perfuração pode ser comparada a um grande camião a ser conduzido sobre dois finos cabos de aço”, disse Sun Jinsheng, cientista da Academia Chinesa de Engenharia, à agência Xinhua.

A outra questão é que estão a receber críticas devido à violação dos direitos humanos. O governo chinês tem sido acusado de violações graves, principalmente contra a população uigur, etnia muçulmana que é minoria cultural na China, tais como prisões arbitrárias, campos de reeducação e restrições à liberdade religiosa. A região de Xinjiang é alvo de intensa vigilância, com muitas câmaras, portões de segurança em prédios e forças armadas com presença ostensiva nas ruas.